Business
Da porteira para fora, o nó logístico freia o avanço do agro em Mato Grosso

Por trás de uma safra histórica, um gargalo estrutural ameaça os ganhos de produtividade no agro mato-grossense. Com a colheita do milho entrando na reta final e estimativas apontando para quase 105 milhões de toneladas entre soja e milho nesta temporada, a pergunta que se impõe é direta: onde guardar tanta produção?
A resposta, ou a ausência dela, tem mobilizado produtores, especialistas e autoridades. O V Simpósio Técnico da Aprosoja MT, coloca a deficiência logística, sustentabilidade e armazenagem no centro da discussão sobre o futuro do agro no estado.
“O déficit de armazenagem pode ultrapassar 52 milhões de toneladas. Vivendo todo esse cenário geopolítico. Se nós perdermos mercado, aonde nós vamos colocar a nossa produção agrícola”, alerta o presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber.
A preocupação não é isolada. No campo, o tom de alerta cresce mesmo em meio à euforia com a produtividade.
Em Diamantino, por exemplo, a safra de milho surpreendeu. “Acredito que vamos fechar acima de 120 sacas por hectare, a melhor média da nossa história, mas a estrutura para armazenar esse volume ainda é muito limitada”, afirma Altemar Kroling, presidente do Sindicato Rural de Diamantino.
A situação é ainda mais sensível quando somada ao custo logístico, um desafio crônico que combina estradas não pavimentadas, gargalos no transporte e a quase inexistência de ferrovias em regiões estratégicas.
“Armazenagem e logística, com essa precariedade, são hoje o maior roubo silencioso da nossa produtividade”, resume Luiz Pedro Bier, vice-presidente da Aprosoja MT.
Infraestrutura e política fiscal no radar
Diante das dificuldades, a pauta da armazenagem tem ganhado tração nas esferas técnica e política. Durante o Simpósio, o secretário-chefe da Casa Civil de Mato Grosso, Fábio Garcia, anunciou o “MT Trifásico”, um programa estadual de ampliação do fornecimento de energia trifásica para o campo, um dos pré-requisitos para ampliar a construção de armazéns nas propriedades.
“É um esforço do Estado. Mas, quando falamos de crédito e taxa de juros, aí o desafio é federal. E ele começa com gestão fiscal responsável, corte de privilégios e reformas estruturais”, pontua.
Para o ex-ministro da Agricultura Antônio Cabrera, o Brasil precisa elevar a armazenagem à categoria de prioridade nacional.
“É importante debater meio ambiente, a COP 30 é bem-vinda. Mas, antes de tudo, precisamos garantir que o alimento produzido chegue ao prato do consumidor. Hoje estamos armazenando milho a céu aberto. Isso é inaceitável”, destaca.
Produtividade com sustentabilidade
Além da estrutura logística, o simpósio também foca nas transformações que ocorrem da porteira para dentro. Uso eficiente de insumos, manejo inteligente e tecnologias sustentáveis estão no centro do esforço pela rentabilidade com menos desperdício e mais autonomia para o produtor.
“O produtor tem feito seu papel. Agora, com mais pesquisa e informação, é possível otimizar ainda mais o que já existe dentro da fazenda. Às vezes, tecnologia não é comprar algo novo, mas usar melhor o que já se tem”, explica Beber.
Num cenário global em constante transformação, a competitividade do agro passa, cada vez mais, por decisões estruturais. O campo produz, mas precisa de condições para escoar, guardar e sustentar o que colhe.
Clique aqui, entre em nossa comunidade no WhatsApp do Canal Rural Mato Grosso e receba notícias em tempo real.
Business
Preço do arroz atinge menor nível em 14 anos e preocupa produtores

Com o plantio avançando sobre 18% da área prevista para a safra 2025/26 no Rio Grande do Sul, principal estado produtor do país, o preço do arroz em casca atingiu o menor patamar em 14 anos. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a saca é negociada a R$ 59,17, o valor mais baixo desde setembro de 2011, uma queda de 50,3% em apenas um ano.
Em entrevista ao Rural Notícias, do Canal Rural, Evandro Oliveira, consultor da Safras & Mercado, explicou que o setor enfrenta uma crise de liquidez e rentabilidade causada pelo excesso de oferta.
“Depois de o arroz ultrapassar R$ 120 por saca, logo após a pandemia, houve estímulos e expansão de áreas em várias regiões do país. Isso resultou em uma produção nacional superior a 12,3 milhões de toneladas. Agora, o desafio é encontrar demanda para todo esse volume”, afirmou.
O especialista destaca que o escoamento da produção é um dos principais gargalos. A demanda interna está retraída e as exportações enfrentam forte concorrência com a safra norte-americana, que domina os mercados do hemisfério norte. “O Brasil segue com dificuldades, e o problema está longe de acabar”, avalia Oliveira.
De acordo com levantamento da Conab, a próxima safra ainda deve ultrapassar 11 milhões de toneladas, mesmo com a leve redução de área projetada, cerca de 920 mil hectares, queda de 5%. Para o consultor, esse volume ainda é alto e mantém o mercado pressionado. “O equilíbrio viria com uma produção nacional ajustada ao consumo, em torno de 10,5 milhões de toneladas. Só assim poderíamos ter um 2026 mais confortável”, explicou.
O mercado também sofre com novos entraves logísticos e de custos. “Nas últimas semanas tivemos o impacto do tabelamento dos fretes, o que afastou os poucos compradores que restavam. O mercado segue travado e com muita incerteza”, disse.
Oliveira reforça que a competitividade internacional do arroz brasileiro depende de avanços estruturais. “Demanda existe, mas o ‘custo Brasil’ tira a nossa vantagem. Pedágios, fretes caros, burocracia e altos custos de produção reduzem a margem e impedem o país de competir com grandes exportadores como Estados Unidos, Uruguai, Argentina e Paraguai”, destacou.
Atualmente, o preço de equilíbrio para o produtor, o ponto em que cobre os custos de produção, seria entre R$ 70 e R$ 75 por saca na fronteira oeste gaúcha, principal região produtora. No entanto, as cotações atuais estão bem abaixo desse patamar, variando entre R$ 55 e R$ 56. “É uma situação muito preocupante, que coloca em risco o planejamento de novos plantios”, concluiu o consultor.
Business
Setor da maçã pede que frutas importadas sofram mesmo rigor fitossanitário das nacionais

Popularmente conhecida como traça da maçã, a Cydia pomonella, uma mariposa com menos de 2 cm, foi identificada em pomares de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul pela primeira vez em 1991, mas está erradicada no país desde 2013.
Para assegurar que o país continue livre da praga, um plano nacional de prevenção e vigilância, instituído pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), está em vigor desde setembro.
A iniciativa é fundamental para proteger a fruta, visto que as lagartas atacam diretamente a maçã, perfurando a polpa e retirando qualidade e valor comercial. Outro impacto direto é que os acordos comerciais firmados pelo Brasil com os compradores preveem que a identificação da Cydia pomonella no produto suspende completamente as vendas.
Por conta dos cuidados fitossanitários para manter a fruta longe da praga, a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), que representa os mais de 3.500 agricultores envolvidos no cultivo da fruta, busca sanar fragilidades do sistema, como a importação de maçãs, visto que países como Argentina, Uruguai e Chile ainda sofrem com o problema.
A entidade considera que uma fiscalização mais rígida para a fruta que vem dos países vizinhos e também de outros destinos é fundamental.
“A gente está prevendo, por exemplo, ações de monitoramento no setor produtivo aonde a praga não está – não que eu não ache isso importante – mas a gente precisa ter uma contraparte no setor produtivo de origem da fruta importada”, diz o diretor-executivo da ABPM, Moisés de Albuquerque.
Como contraponto, ele cita a dificuldade do Brasil em abrir novos mercados para exportar maçã devido ao rigor fitossanitário de alguns países, como o malaio e o peruano. “O rigor exigido para a abertura desses mercados, inclusive com controles impostos aqui no setor produtivo do Brasil, é muito grande. Então, o que nós esperamos é que o Ministério da Agricultura também faça exigências semelhantes para esses países [que exportam ao Brasil]”, destaca.
Controle nacional
Santa Catarina é o maior produtor de maçã do país com mais de 600 mil toneladas por safra. A Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola do estado (Cidasc) realiza o monitoramento do inseto com armadilhas, assim como é feito no Rio Grande do Sul. Feromônios são usados em mais de 100 pontos em áreas produtoras, de fronteira e em packing houses catarinenses.
O gestor do Departamento Estadual de Defesa Vegetal da Cidasc (Dedev/Cidasc), Alexandre Mess, lembra que não há obrigatoriedade normativa para os produtores monitorarem por conta própria a incidência da mariposa.
“Mas nada impede que um produtor de maçã compre armadilhas e feromônios e ajude a aumentar essa rede de monitoramento. Esse é o típico caso de quanto mais, melhor.”
Estima-se que se a praga entrasse no país, apenas o custo de controle geraria custos superiores a R$ 400 milhões por safra.
“Além da questão fitossanitária, muitos países têm restrições quanto a à aplicação de defensivos químicos. Então isso também é uma preocupação do produtor. Quanto menos aplicações ele puder fazer, ou se puder não fazer, mais mercados ele consegue atingir com o seu produto”, ressalta a chefe do Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDV/Seapi), Deise Feltes Riffel.
Business
como o agro brasileiro pode se beneficiar e atrair investimentos

O conceito de taxonomia sustentável pode parecer complexo, mas é um instrumento essencial para orientar investimentos em atividades econômicas com impacto ambiental positivo.
O Comitê Interinstitucional da Taxonomia Sustentável Brasileira (CITSB) apresentou critérios que classificam essas atividades, considerando os desafios socioambientais específicos do Brasil.
Segundo o gerente de sustentabilidade da Fundação Eco+, Thiago Egídio Barreto, explica que a taxonomia funciona como um sistema de classificação para atividades econômicas, adaptado à realidade regional. “É importante equacionar os critérios de sustentabilidade que vão nortear as atividades econômicas dentro do contexto brasileiro”, afirma.
Para o produtor rural, a aplicação da taxonomia traz oportunidades práticas. Barreto destaca que, ao atender aos critérios socioambientais, o agricultor pode ter acesso a recursos financeiros mais estratégicos e com custos menores.
“Estamos conectando um direcionamento de estado para direcionar recursos, seja governamental ou privado, para atividades que conservam solo, água e florestas, e adotam boas práticas de manejo”, explica.
O instrumento vem sendo construído desde 2023, com consultas públicas e participação de especialistas de diferentes setores. “Essa base técnica e científica traz clareza para bancos e fundos de investimento, uniformizando critérios e oferecendo segurança para aportes em carteiras verdes ou sociais”, acrescenta Barreto.
Vantagens da taxonomia sustentável
Entre os principais pilares da taxonomia sustentável estão a conservação do solo e da água, o manejo responsável de pastagens, atualmente com 40 milhões de hectares degradados no país e a preservação de áreas de proteção ambiental e reservas legais.
“Uma agricultura bem manejada pode melhorar a qualidade física, química e biológica do solo, ao mesmo tempo em que conserva florestas e biodiversidade”, completa o especialista.
COP30
Com a COP30 se aproximando, a taxonomia sustentável ganha ainda mais relevância. Ela pode pautar discussões sobre regulação de emissões e mercados de carbono, conectando políticas de estado e práticas do setor produtivo. Barreto conta que a iniciativa mostra o compromisso do Brasil com metas socioambientais e oferece um caminho claro para que atividades econômicas contribuam para redução de impactos climáticos.
- Business20 horas ago
Crédito rural em queda reforça busca por soluções de longo prazo
- Business24 horas ago
Arroz cai para a menor média em 14 anos
- Business23 horas ago
Indicador do algodão opera abaixo da paridade de exportação
- Sustentabilidade17 horas ago
Aumento no teor de nitrogênio na soja traz ganhos ao agricultor de até 6 sacas por hectare (sc/ha) e acréscimo em proteína, com impacto econômico e qualitativo – MAIS SOJA
- Business23 horas ago
BASF recebe aprovação para fungicida Zorina nos Estados Unidos
- Sustentabilidade23 horas ago
Soja: mais de 16% da área foi plantada em MS – MAIS SOJA
- Sustentabilidade20 horas ago
Safra de soja 2025/26 deve bater recorde, mas exige atenção redobrada no manejo fitossanitário – MAIS SOJA
- Agro Mato Grosso23 horas ago
Safra recorde; Conab aponta para uma colheita de 354,7 milhões de toneladas de grãos na safra 2025/26