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o inimigo invisível do agro

Os casos recentes de bebidas adulteradas com metanol, que resultaram em internações e mortes no Brasil, acenderam um alerta sobre um problema muito maior: a pirataria, a falsificação e a adulteração de produtos. Esse não é um fenômeno restrito ao consumo urbano e o agronegócio também sofre diretamente com ele. Trata-se de um inimigo silencioso, mas de efeitos devastadores para a economia, a saúde e o meio ambiente.
O setor convive com sementes piratas que não entregam a produtividade prometida, combustíveis adulterados que comprometem máquinas, defensivos agrícolas falsificados que ameaçam tanto a eficácia no combate a pragas quanto a segurança humana e ambiental.
No caso das sementes, a pirataria já responde por 11% da área plantada de soja no Brasil. O prejuízo estimado é bilionário: cerca de R$ 10 bilhões por ano para o setor, de acordo com a CropLife Brasil. Além do impacto econômico, há a perda de produtividade: em média, o uso de sementes piratas resulta em quatro sacas a menos por hectare, uma redução de até 17% no rendimento. Isso significa menos produção, mais custos e um agro menos competitivo.
A situação é igualmente grave no mercado de defensivos agrícolas. Segundo a Abifina, estima-se que um quarto de todo o mercado brasileiro seja ocupado por produtos ilegais ou falsificados, movimentando cerca de R$ 20 bilhões por ano fora da economia formal.
Esses produtos, muitas vezes contrabandeados ou adulterados, não passam por qualquer controle técnico. Resultado: falhas no combate a pragas, lavouras mais vulneráveis, aumento da necessidade de aplicações e riscos sérios de contaminação do solo, da água e até de intoxicação de trabalhadores rurais. Além disso, eles enfraquecem programas de manejo sustentável e favorecem a resistência de pragas.
Por trás de cada semente certificada ou defensivo agrícola regular existe um longo caminho de pesquisa e desenvolvimento. São anos de estudos, testes de campo, avaliações de segurança e análises regulatórias que envolvem pesquisadores, universidades e empresas. Um processo que garante qualidade, eficácia e segurança para produtores e consumidores.
Quando o produtor recorre a insumos piratas, ele não apenas coloca sua lavoura em risco: ele mina o investimento em ciência e tecnologia. Isso desestimula a inovação e compromete o futuro do agronegócio, que depende justamente de novas soluções para enfrentar pragas, mudanças climáticas e o desafio de produzir mais de forma sustentável. Valorizar o trabalho da ciência é também proteger o agro de práticas criminosas.
Hoje, a realidade é dura: para quem pratica esse tipo de crime, as penas ainda compensam. O risco jurídico é baixo, enquanto o ganho financeiro é alto. Essa equação, infelizmente, incentiva a continuidade da prática e fragiliza quem trabalha de forma séria e dentro da lei.
O Congresso já percebeu a gravidade da situação e deve pautar, na próxima semana, projetos de lei que endurecem as punições para falsificação, pirataria e adulteração de produtos. Se aprovadas, essas mudanças representarão um avanço importante. Penas mais rígidas podem, sim, ajudar a desestimular o crime. Mas precisamos reconhecer que esse é apenas um dos lados da equação.
A experiência brasileira já mostrou que leis mais duras, sozinhas, não bastam. Sem uma rede eficiente de fiscalização, a impunidade continua. É preciso que os órgãos competentes atuem de forma coordenada, com recursos humanos e tecnológicos suficientes para monitorar, identificar e punir quem coloca em risco o agro e a sociedade.
Ao mesmo tempo, a conscientização de produtores e consumidores é fundamental. Comprar produtos ou insumos de origem duvidosa, muitas vezes atraídos pelo preço mais baixo, pode parecer vantajoso no curto prazo, mas traz enormes prejuízos no médio e longo prazo, tanto financeiros quanto de credibilidade para todo o setor.
Os recentes casos de bebidas contaminadas com metanol deixam claro que não se trata apenas de um problema do campo ou da indústria, mas de um risco que atravessa fronteiras e chega à mesa de todos nós. Quando a pirataria prospera, todos estamos expostos, seja no copo, no prato ou no alimento que exportamos para o mundo.
O agro não pode, e o Brasil não deve tolerar a pirataria.
*Rebecca Lucena é diretora de Relações Governamentais da BMJ Consultores Associados e cofundadora da rede Women Inside Trade (WIT)
O Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.
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Feijões da Amazônia têm até 27% de proteína e podem ganhar selo de origem

Um estudo inédito realizado no Vale do Juruá, no Acre, revelou que os feijões-caupi costela-de-vaca e manteiguinha branco possuem teores de proteína de até 27%, bem acima da média mundial e dos 20% registrados em variedades de outras regiões do Brasil. A descoberta integra a tese de doutorado “Qualidade nutricional e armazenamento de feijões do Juruá no Acre”, desenvolvida pela professora do Instituto Federal do Acre (Ifac), Guiomar Almeida Sousa, sob orientação do pesquisador da Embrapa Acre, Amauri Siviero.
As análises foram realizadas no laboratório de Bromatologia da Embrapa Acre e mostraram que as duas variedades com maior índice proteico são cultivadas por agricultores familiares que ainda utilizam sistemas agrícolas tradicionais. A maioria das plantações ocorre nas praias dos rios da região durante o período seco.
Riqueza nutricional e benefícios à saúde
Além do alto teor de proteína, o estudo também mediu a presença de antocianinas, substâncias antioxidantes naturais que ajudam a combater o envelhecimento celular e a prevenir doenças como câncer, Alzheimer e problemas cardíacos.
Os feijões preto de arranque e preto de praia apresentaram índices dessas substências que variam de 420 a 962 microgramas por grama, valores superiores aos encontrados em variedades brancas e coloridas.
Segundo a professora Guiomar Sousa, as diferenças na composição nutricional entre as espécies estão ligadas à diversidade de ambientes e manejos da agricultura local. “Essas variedades possuem pouco ou nenhum estudo, o que mostra que ainda temos muito a aprender sobre elas”, afirma.
Conservação e potencial econômico
Outro resultado importante da pesquisa é a boa conservação dos grãos, que mantiveram seus valores nutricionais após 12 meses de armazenamento.
Para o pesquisador Amauri Siviero, esse desempenho reflete o manejo cuidadoso das sementes por agricultores familiares, indígenas e quilombolas. “Essas sementes foram adaptadas ao longo dos anos às condições locais e ao manejo das populações tradicionais”, afirma.
Durante três anos, foram analisadas 14 variedades de feijões cultivadas nos rios Juruá, Breu, Tejo e Amônia, em Marechal Thaumaturgo, município que concentra a maior diversidade de feijões do Acre. O levantamento resultou em um mapa da distribuição das variedades crioulas do estado, confirmando a relevância da região para a conservação da agrobiodiversidade.
Segundo Siviero, o Vale do Juruá pode ser considerado um dos principais centros de conservação on farm de feijões do mundo. “Enquanto o feijão-comum é cultivado em terra firme, o feijão-caupi cresce em várzeas e pequenos roçados, em áreas de até um hectare”, detalha.

Caminho para a valorização
O reconhecimento do valor nutricional e genético dos feijões do Juruá abre espaço para novos mercados e políticas públicas.
Em setembro, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) lançou o Selo Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil, que poderá ser solicitado por associações e cooperativas locais.
Para o professor Eduardo Pacca, da Universidade Federal do Acre (Ufac), as variedades da região têm potencial para obter Indicação Geográfica (IG) e certificação orgânica, como já ocorre com a farinha de mandioca do Acre.
Patrimônio agrícola e cultural
Os feijões do Juruá integram também o projeto “Registro dos Sistemas Agrícolas Tradicionais do Alto Juruá (RSAT Alto Juruá)”, coordenado pela Embrapa e parceiros como a Ufac e o Ifac.
A iniciativa tem documentado o conhecimento ancestral das comunidades ribeirinhas e suas estratégias sustentáveis de cultivo. Em agosto de 2025, a equipe percorreu 190 quilômetros pelo rio Juruá, registrando práticas agrícolas em sete municípios do Acre e do Amazonas.
De acordo com Siviero, “os feijões do Vale do Juruá se perpetuam como herança entre gerações e como práticas de conservação da agrobiodiversidade”. Ele destaca que essas tradições envolvem também cultivos de mandioca, milho, banana e tubérculos, além de festas culturais como a farinhada e o festival do feijão e milho.
Sustentabilidade e reconhecimento internacional
A pesquisadora Elisa Wandelli, da Embrapa Amazônia Ocidental, reforça que a agricultura dos ribeirinhos do Juruá é exemplo de sustentabilidade. “Vimos uma população sábia, que mostra que é possível produzir alimentos e cuidar da natureza ao mesmo tempo”, afirma.
Essas práticas estarão em destaque na COP30, em Belém (PA), onde os sistemas agrícolas tradicionais serão apresentados na AgriZone, espaço da Embrapa dedicado à inovação e inclusão.
“Nossa presença na COP 30 reforça a importância de proteger esses sistemas e valorizar as comunidades que preservam a biodiversidade do Brasil”, conclui Siviero.
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MP denuncia empresário por 120 golpes e fraude de mais de R$ 20 milhões

O Ministério Público do Paraná (MPPR) denunciou na última sexta-feira (10) Celso Antônio Fruet, um empresário de 72 anos do ramo de cereais, que aplicou golpes contra pelo menos 120 produtores rurais e lucrou ilicitamente R$ 20,3 milhões no município de Campo Bonito, no oeste do estrado.
O golpista era proprietário de uma empresa cerealista. Mesmo após vender o seu negócio para uma cooperativa da região, continuou negociando grãos com diversos agricultores, adquirindo e recebendo mercadorias sem realizar os pagamentos.
Segundo a promotora de Justiça Ana Carolina Lacerda Schneider, a venda de sua empresa gerou lucro de mais de R$ 40 milhões. O MP está em processo de verificação sobre a destinação do dinheiro.
De acordo com investigação, o denunciado possuía o negócio há cerca de 30 anos na região e atuava armazenando sacas de soja e trigo de agricultores nos silos de sua propriedade.
Consequências para vítimas e golpista
As vítimas receberam a notificação da fraude no dia 21 de julho deste ano quando, ao se deslocaram até o estabelecimento comercial de Fruet, descobriram o local vendido e as atividades encerradas.
Conforme denúncia, a Promotoria de Justiça acredita que ele se aproveitava da relação de confiança que criou com diversos produtores rurais para aplicar os golpes.
Além disso, as investigações também apontaram que ele teria praticado crimes semelhantes em anos anteriores nos municípios paranaenses de Capanema e Catanduvas, sendo que esses crimes já prescreveram.
Ao todo, Celso Antônio Fruet foi denunciado por 124 ocorrências do crime de estelionato, sendo que em 38 desses casos as vítimas eram idosos. Além da condenação às penas previstas em lei, o MP também requer o pagamento de valor mínimo a título de reparação aos danos causados às vítimas.
O suspeito tem um mandado de prisão em aberto e é considerado foragido pela polícia.
*Sob supervisão de Luis Roberto Toledo
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Chuva sem trégua? Frente fria segue no Brasil e muda o tempo nos próximos dias

Nesta semana, a frente fria que atua sobre o Brasil avança e espalha chuva por áreas de São Paulo, Minas Gerais e Centro-Oeste, ajudando a repor a umidade do solo e a impulsionar o ritmo da semeadura da safra 2025/26.
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Sul do país
No Sul do país, a previsão indica o retorno das precipitações ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná a partir de sexta-feira (17) e sábado (18), com a chegada de uma nova frente fria. Essa chuva é essencial para manter o solo úmido e garantir boas condições para o plantio.
Calorão no Matopiba
Enquanto isso, o Matopiba segue sob atenção pela falta de chuva. A boa notícia é que, entre os dias 19 e 23 de outubro, as precipitações devem finalmente avançar para o centro-sul da Bahia e parte do Tocantins, com volumes de até 50 milímetros e aliviando o calor e o tempo seco.
Chuvas previstas
No mesmo período, as chuvas permanecem constantes em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, com acumulados próximos de 50 mm, praticamente encerrando o déficit hídrico em várias áreas produtoras.
Previsão para Sorriso (MT)
Em municípios estratégicos, como Sorriso (MT), os próximos 30 dias devem registrar temperaturas entre 30 °C e 33 °C, acompanhadas de chuvas frequentes. A atenção do produtor deve se voltar especialmente ao período de 19 a 22 de outubro, quando os volumes podem variar de 30 mm a 60 mm e comprometer os trabalhos de campo. No geral, a umidade será bastante favorável entre os dias 17 e 19 e novamente entre 23 e 28 de outubro.
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