Connect with us

Business

entre a China e os desafios de filas, descontos e desvalorização

Published

on


O cultivo do gergelim tem ganhado espaço nas lavouras de Mato Grosso, mas os gargalos logísticos e de mercado vêm tirando o sono de agricultores. Com filas nos armazéns, descontos elevados e desvalorização dos preços, produtores avaliam com cautela a continuidade do plantio.

“Ano que vem a gente vai pensar bem na hora de plantar gergelim, vamos fazer a conta e ver se vale a pena, porque com certeza vai ter um estoque bom desse ano para o próximo”, afirma o agricultor Matheus Henrique Mendes França que está em seu segundo ano de cultivo do gergelim em Diamantino.

Ele conta ao Patrulheiro Agro desta semana que neste ano cultivou 800 hectares com a cultura e que as filas nos armazéns se tornaram um problema recorrente, o que também dificulta o cultivo da cultura. “Grandes filas em todas as empresas, e isso acaba postergando a colheita, postergando o cumprimento dos contratos no recebimento. Quanto mais tempo na roça, ou dentro do caminhão, ele vai perder qualidade”.

O produtor relata que tal demora compromete a entrega do gergelim e a rentabilidade dos produtores. “A gente tem encontrado uma certa dificuldade para cumprir os contratos e fazer com que as empresas recebam esse produto”.

Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Filas, secagem e descontos elevados

Além da espera, Matheus destaca outro entrave: os descontos elevados. “Temos sofrido com altos descontos de impureza, tem problema da acidez que é um problema relativamente novo, ninguém recebia reclamação desse problema”.

Segundo o agricultor, a falta de transparência agrava a situação. “É difícil você acompanhar isso in loco, porque as empresas fazem nos seus laboratórios. Então falta um pouco de transparência para o produtor estar validando se realmente esse produto não está adequado”.

Em outra propriedade, em Diamantino, o sol tem sido aliado no processo de secagem dos grãos. A força-tarefa busca garantir um produto com a umidade dentro do padrão exigido pelas empresas compradoras.

“Temos que colher aos poucos e botar na lona porque não tem espaço, aí seca um tanto, colhe outro tanto e coloca na lona”, relata Otacílio Cândido Ribeiro, gerente de produção, à reportagem do Canal Rural Mato Grosso.

A dificuldade, explica ele, é organizar a logística. “Tem que embegar tudo porque não tem onde botar. Para vir um caminhão para carregar 10 mil quilos não vem, então tem que fechar a carga primeiro”.

As chuvas também complicaram a situação dos produtores. “Uma chuva grande em junho, choveu maio, choveu abril, não baixa a umidade, as empresas não conseguem receber, não têm capacidade de secagem dele”, comenta o agricultor Rogério Cocco Rubin.

gergelim china foto pedro silvestre canal rural mato grosso
Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Rogério acrescenta que o risco é grande diante da situação. “Ele tem que secar a campo, a gente colhe ele está seco para colheita, mas não está seco suficiente. E aí eu mandar uma carga daqui para Canarana, chegar lá a empresa não receber porque não está dentro dos padrões, imagina o transtorno que isso dá”.

Conforme Rogério, a preocupação é constante. “É uma coisa que tira o sono”, frisa.

Para a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja Mato Grosso), o gargalo está na armazenagem. “As empresas que comercializam o gergelim são deficientes mais do que nós ainda em armazenagem”, diz Gilson Antunes Mello, diretor da entidade.

Ele ressalta que a concentração da colheita agrava o problema. “Como a produção chega no mesmo período geralmente dentro do mês de maio e junho ou junho e julho, elas não conseguem absorver esse gergelim, e acabam ficando nos caminhões 10 dias, 12 dias na fila aguardando a descarga”.

Gilson reforça que é preciso estruturar melhor a cadeia. “Agregaria muito valor ao produtor, só que temos que organizar essa logística, organizar a cadeia produtiva do gergelim para que o produtor tenha segurança de plantar, colher e saber que vai comercializar como qualquer outro produto”.

Mercado pressionado e aposta na China

Canarana é considerada a capital nacional do gergelim, o que concentra ainda mais os volumes. “Hoje a capital nacional do gergelim é aqui em Canarana, então o Mato Grosso acaba trazendo muito volume”, explica Wuallyson Tieppo Souza, coordenador regional de compras e vendas da Atlas Agro.

De acordo com ele, o pico da colheita pressiona a logística. “Então a gente sabe que vai sofrer nesse pico de entrega”.

Para amenizar, a empresa, revela Wuallyson, pretende ampliar sua atuação. “Do mesmo jeito que a gente tem o compromisso de receber dos agricultores os grãos a gente tem o compromisso de exportar. Então temos que fazer essa cadência certinha para não dar para o lado do produtor e nem para o nosso lado. Ano que vem a gente já vai ter uma unidade em Tocantins, então vai ficar um pouco melhor a questão de disseminação do gergelim”.

Gergelim foto israel baumann canal rural mato grosso
Foto: Israel Baumann/ Canal Rural Mato Grosso

A Atlas Agro atua em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Tocantins e Goiás, destaca o coordenador regional de compra e vendas, e já recebeu mais de 80% da produção contratada nesta safra.

Segundo Wuallyson, o excesso de oferta trouxe mais exigência na classificação também. “Esse ano a gente se deparou com cargas um pouco mais sujas, que dos outros anos. Como todos os grãos, soja, milho, tem essas divergências, então o gergelim acaba tendo também”.

No Brasil, o cultivo é mecanizado, o que pode impactar a qualidade em comparação a países que fazem manejo manual.

A questão dos preços também preocupa. “Os preços acabaram descendo um pouco as margens que a gente vinha acompanhando nas outras safras e acabou sendo um ano atípico. Como teve muito gergelim, acaba que tiveram contratos muito bons, contratos médios. Como é uma cadeia em que a gente depende do produtor e o produtor depende da gente, então tem sempre que fazer um bom acordo para chegar bem para os dois lados”, pontua Wuallyson.

Empresas como a Sezam Zaad também aumentaram as compras neste ano, cerca de 20%, para atender China e Guatemala. A empresa possui estrutura em Mato Grosso, Tocantins e no Pará. Mas, segundo o gerente comercial Patrick Batista Stein, nem todos os contratos internacionais foram honrados.

“Os compradores de fora não honraram os contratos com várias empresas, não foi só com uma, foram com todas. Então a gente vê que isso impactou tanto o mercado do ano passado quanto desse ano, porque tem muita empresa que tem produto da safra 2024, e a gente não consegue desovar esse volume”.

Ele ressalta que, apesar disso, a empresa segue cumprindo seus compromissos. “Todos os contratos nossos estão sendo cumpridos, tanto contratos de excedentes, que são os spots, quanto os contratos no cedo que foram feitos na época do plantio, para poder manter essa parceria por mais anos”.

A abertura do mercado chinês, contudo, é vista como oportunidade. “A gente vê que é um mercado que é uma incógnita ainda. Até dois anos atrás os preços eram altos, a gente não pode dizer como vai ser a próxima safra 2026, mas é um mercado que está se aquecendo com a abertura da China”, afirma Patrick a reportagem do Canal Rural Mato Grosso.

Ele avalia que a presença chinesa pode ser decisiva. “Eles querem conhecer o mercado do Brasil. A gente não sabe ainda, porque é o primeiro ano que eles estão comprando no Brasil. No ano que vem eles podem entrar comprando 100% do mercado do Brasil, porque eles têm capacidade”.

Patrick reforça que o produtor é peça-chave no setor. “A gente vê que esse ano foi um ano diferencial, muitos produtores passando gergelim pré-limpeza, melhorando adaptações em colheitadeiras. Hoje o produtor rural é o maior sócio da empresa, e a gente tem que valorizar o produtor rural”.

A Associação Brasileira dos Produtores de Feijão, Pulses, Grãos Especiais e Irrigantes (Aprofir Brasil) chama atenção para outro desafio: a falta de variedades adequadas ao consumo humano. “95%, 97% é uma variedade de gergelim amargo, ele só serve para óleo, e o mercado ele quer gergelim para consumo humano também, o gergelim doce”, explica Marcos da Rosa, vice-presidente da entidade.

Ele lembra que ainda há falhas na produtividade. “A pesquisa não conseguiu dar a solução para essas questões, tanto para produtividade, quanto maior retenção de grãos dentro da cápsula. Abre demais e derruba eles”.

Segundo a Aprofir Brasil, há pesquisas em andamento e interesse de produtores de sementes de gergelim de países como Israel, EUA (Texas) e Paraguai, além de uma universidade que estuda a cultura desde 1986.

Outro ponto destacado por Marcos da Rosa é o controle de plantas daninhas. “Tem que ser resolvida a questão dos herbicidas, que a planta seja resistente à folha larga por exemplo. Não temos nada que segure as ervas daninhas na lavoura para nós permanecer viável no mercado”.

+Confira todos os episódios da série Patrulheiro Agro


Clique aqui, entre em nossa comunidade no WhatsApp do Canal Rural Mato Grosso e receba notícias em tempo real.

Continue Reading

Business

Congresso de Agronomia: produtividade com sustentabilidade

Published

on

A engenharia agrônoma e toda a cadeira produtiva do agro brasileiro volta o foco para Maceió, Alagoas, a partir deste dia 14 de outubro, para difundir conhecimento, inovação e experiências que pretendem moldar o futuro da agronomia no Brasil. Em sua trigésima quarta edição, o Congresso Brasileiro de Agronomia – CBA 2025 – tem como tema Produtividade com Sustentabilidade.

Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil (Confaeab), através da Sociedade dos Engenheiros Agrônomos de Alagoas (Seagra) realiza o evento com 6 salas temáticas simultâneas, mais de 65 palestras e painéis, mais de 300 trabalhos científicos apresentados, 130 palestrantes especialistas entre eles, Roberto Rodrigues, ex-ministro da agricultura e embaixador da FAO para o cooperativismo, falando sobre o tema: O Engenheiro Agrônomo do Futuro, e Aldo Rebelo, ex-ministro, que falará sobre “A Importância do Engenheiro Agrônomo para a Segurança Alimentar”.

Entre os temas também figuram os debates, trabalhos e exposições do evento a nanotecnologia e robótica para agricultura sustentável, startups e inovação no campo, agronomia como protagonista da transição energética, políticas públicas, e muito mais.  

Continue Reading

Business

Aprosoja-MT pede revisão na MP que renegocia dívidas rurais

Published

on

A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) cobrou do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) a revisão dos critérios de acesso ao crédito rural previstos na Medida Provisória nº 1.314/2025, que renegocia dívidas rurais.

A entidade enviou ofício à pasta defendendo que os bancos possam avaliar individualmente os pedidos de produtores, com base em comprovação técnica de perdas, sem restrições territoriais impostas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Critérios territoriais e impacto no campo

Publicada em setembro, a MP 1.314/2025 criou linhas de crédito com juros subsidiados entre 2% e 6% ao ano para produtores que tiveram perdas em duas ou mais safras entre 2020 e 2025 por causa de eventos climáticos extremos. As regras do CMN, no entanto, limitam o acesso aos produtores localizados em municípios listados pelo Ministério da Agricultura, de acordo com percentuais médios de perdas apurados pelo IBGE.

Para a Aprosoja-MT, o critério desconsidera casos de perdas comprovadas fora desses recortes estatísticos. A entidade afirma que a medida acaba excluindo agricultores que enfrentaram seca, excesso de chuva e queda nos preços da soja e do milho, comprometendo a viabilidade econômica das propriedades.

“Produtores com laudos técnicos e comprovação de prejuízos deveriam ter o mesmo direito ao crédito equalizado. O objetivo é garantir fôlego financeiro para continuar produzindo”, afirmou Diego Bertuol, diretor administrativo da Aprosoja-MT.

Endividamento e burocracia

Dados do Banco Central mostram que cerca de 15% da carteira de crédito rural de Mato Grosso, o equivalente a R$ 14 bilhões, está em atraso ou renegociação. Segundo a Aprosoja, o cenário reforça a necessidade de juros acessíveis e prazos adequados, conforme previsto na MP.

Bertuol também destacou a burocracia e as exigências excessivas como entraves ao crédito rural. “A demora nos processos, a falta de recursos e as altas garantias exigidas impedem o acesso às linhas emergenciais. Em muitos casos, bastaria o alongamento das dívidas com carência e prazos adequados para evitar a falência de produtores”, afirmou.

Pedido de revisão

A entidade solicita que o Mapa reavalie as normas complementares e autorize expressamente as instituições financeiras a realizarem a análise individualizada dos pedidos de crédito, conforme a comprovação técnica das perdas. Para a Aprosoja-MT, o foco da MP deve permanecer em atender produtores em situação de vulnerabilidade, independentemente da localização geográfica.

Caso os critérios não sejam revistos, produtores afetados por secas, chuvas intensas e incêndios podem ser obrigados a renegociar suas dívidas em linhas de mercado, com juros superiores a 16% ao ano, o que, segundo a entidade, aumentaria o risco de insolvência no campo.

Continue Reading

Business

Agricultura regenerativa cresce no Cerrado e melhora resultados nas lavouras

Published

on

O Cerrado brasileiro passa a ganhar protagonismo na agricultura regenerativa. O projeto Regenera Cerrado, iniciativa do Fórum do Futuro em parceria com universidades e empresas, concluiu a primeira fase em setembro, abrangendo mais de 8 mil hectares de fazendas no sudoeste de Goiás.

Durante essa etapa, foram validadas práticas que diminuíram o uso de insumos químicos, como fertilizantes (-20%), fungicidas (-30%) e inseticidas (-50%), ao mesmo tempo em que aumentaram o uso de bioinsumos e técnicas de controle biológico, mantendo a produtividade das culturas de soja e milho.

O projeto também monitorou serviços ecossistêmicos, como a preservação de polinizadores, mostrando aumento de produtividade próximo a áreas de mata nativa, e melhorias na estruturação do solo e na mitigação de gases de efeito estufa.

Agora, a segunda fase do Regenera Cerrado, iniciada em outubro, ampliará o estudo para cinco pilares: saúde do solo e da água, práticas agrícolas regenerativas, conservação da biodiversidade, produção de alimentos seguros e sustentáveis e fortalecimento do mercado regenerativo.

O objetivo é coletar dados integrados sobre solo, biodiversidade, polinização, carbono, fitossanidade e qualidade dos grãos, consolidando evidências para ampliar a adoção de práticas regenerativas em todo o país.

Continue Reading
Advertisement

Agro MT