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Desencorajado, produtor brasileiro reduz área plantada com trigo

A safra de trigo plantada em 2025 no Brasil será marcada por uma retração expressiva na área plantada, reflexo direto da perda de confiança do produtor diante de um cenário comercial e climático adverso. A estimativa mais recente aponta uma redução de 23,3%, com 2,259 milhões de hectares cultivados — 688 mil a menos que no ciclo anterior (2,947 milhões).
O movimento de retração é generalizado e atinge os principais polos produtivos. No Paraná, a queda na área chega a 25,7%; no Rio Grande do Sul, 22,7%; em Santa Catarina, 20%; Minas Gerais e São Paulo também apontam quedas superiores a 22%. Apenas a Bahia, onde predomina o cultivo irrigado, apresentou avanço, embora modesto (+4,2%) e sobre uma base ainda pequena.
A redução da área brasileira de trigo decorre de um conjunto de fatores. No campo, os impactos climáticos da temporada passada — com perdas severas em diversas regiões — e o excesso de chuvas no momento do plantio geraram atrasos e, em alguns casos, inviabilizaram o cultivo. A ocorrência de geadas no Paraná no ano passado, além de comprometer lavouras, acentuou o receio do produtor quanto à viabilidade da cultura.
Culturas de inverno concorrentes, como milho safrinha e sorgo, têm oferecido maior liquidez, menor risco e melhor retorno na composição da rentabilidade da propriedade — especialmente considerando os efeitos sobre a produtividade da soja em sucessão.
Em regiões onde não há concorrência com culturas de segunda safra, muitos produtores optaram por culturas de cobertura, visando aproveitar a melhor janela para o plantio da soja. Outros devem entrar com milho de verão, pensando em uma segunda safra de soja.
No plano econômico, o desestímulo é evidente. Os preços internos recuaram, os custos seguem elevados e as margens estão comprimidas. Mesmo com a baixa oferta no mercado interno, os moinhos encontram no trigo importado uma alternativa competitiva, favorecida por preços internacionais em queda e pela valorização recente do real. Muitos produtores, reticentes quanto à viabilidade do plantio, adiaram a decisão e, diante do achatamento das cotações, acabaram optando por não investir no cereal de inverno.
A falta de seguro rural acessível e efetivo agrava o problema. Em uma cultura marcada por riscos climáticos elevados — como geadas, excesso de chuvas e estiagens —, a ausência de mecanismos de proteção contra perdas limita o interesse tanto do produtor quanto do financiador. Sem cobertura adequada, o risco da operação recai integralmente sobre o produtor, o que reforça o comportamento defensivo diante das incertezas.
Soma-se a isso a dificuldade de acesso ao crédito e o impacto dos juros elevados. A restrição do crédito rural foi um dos principais limitadores da triticultura, especialmente para o cultivo de sequeiro (Sul e Sudeste), onde o financiamento é essencial para viabilizar uma cultura de risco climático elevado e retorno incerto.
Com margens cada vez mais pressionadas, o trigo exige planejamento técnico e financeiro rigoroso. O problema é que, após sucessivos choques climáticos e preços baixos, muitos produtores — especialmente os de pequeno e médio porte — encontram-se descapitalizados.
Sem caixa e com dificuldade de apresentar garantias, ficaram fora das linhas oficiais de crédito. A situação é ainda mais crítica no Rio Grande do Sul, onde as perdas com a soja na safra de verão comprometeram a capacidade de pagamento, restringindo ainda mais o acesso a novos recursos.
No mercado privado, as alternativas também encolheram. Com juros altos e aumento da inadimplência, bancos e tradings adotaram uma postura mais seletiva e conservadora. Para muitos produtores, isso significou a opção por reduzir a área plantada, abrir mão de tecnologia ou até abandonar temporariamente a cultura.
A produção nacional, já ajustada aos danos causados pelas intempéries climáticas (até o momento), está projetada em 7,105 milhões de toneladas, retração de 8,6% frente à safra anterior (7,77 milhões). A queda foi parcialmente compensada pelo ganho de produtividade média (+19,3%), estimada em 3.145 kg/ha, com destaque para estados que haviam sofrido perdas no ciclo anterior, como Minas Gerais (+62,6%) e Paraná (+52,6%).
Apesar disso, a oferta interna continuará limitada. O Rio Grande do Sul deverá colher 3 milhões de toneladas (queda de 24,1%) e o Paraná, 2,7 milhões (alta de 13,4%) — volume ainda insuficiente para abastecer os moinhos locais, cuja moagem gira em torno de 3,850 milhões de toneladas, o que obrigará o estado a buscar trigo em outras regiões ou no mercado externo.
Em síntese, a retração da área plantada com trigo em 2025/26 reflete um ciclo de desconfiança do produtor, desestímulo financeiro e riscos climáticos acumulados. Mesmo com ganhos de produtividade pontuais, a menor escala da safra compromete a segurança da oferta e mantém o país estruturalmente dependente das importações.
O mercado segue atento à evolução climática e à resposta do produtor diante de uma conjuntura que exige crédito acessível, proteção contra perdas e maior previsibilidade de receita para garantir o mínimo de estabilidade à triticultura brasileira.
Diante de tanta incerteza, o Cerrado brasileiro pode ser um bom exemplo, onde a indústria e o campo estão buscando uma aproximação para a viabilização da cultura. Ao produtor, o trigo é uma alternativa de renda. Aos moinhos, a garantia de produto de qualidade.
*Élcio Bento é especialista em trigo graduado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Faz parte da divisão de especialistas de Safras & Mercado há mais de 20 anos
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Deputados da FPA denunciam práticas abusivas relacionadas ao crédito rural

A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados (Capadr) realizou, nesta terça-feira (14), uma audiência pública para discutir as exigências impostas por instituições financeiras no acesso ao crédito rural. O debate reuniu representantes do governo, do setor produtivo e do sistema financeiro.
Segundo os deputados, produtores têm enfrentado práticas abusivas, como a “venda casada” de seguros e títulos de capitalização vinculados à liberação de financiamentos, além da cobrança de garantias superiores aos padrões de mercado. As informações foram apresentadas por parlamentares e ainda não possuem confirmação oficial de órgãos reguladores ou de defesa do consumidor.
“Produtores de diferentes regiões do país têm relatado pressões para contratar produtos adicionais, sem saber que isso é ilegal”, disse a deputada Coronel Fernanda (PL-MT), coordenadora de Política de Abastecimento da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Para ela, o crédito rural é “uma política pública voltada ao desenvolvimento, não um instrumento de lucro para os bancos”.
O deputado Pedro Westphalen (PP-RS), que também integra a bancada, destacou a importância do debate e elogiou a iniciativa da deputada Coronel Fernanda. Segundo ele, o Parlamento cumpre seu papel ao trazer à tona temas que afetam diretamente o setor produtivo.
Venda casada e alongamento de dívidas
O advogado Diogo Fernando Goulart, especialista em direito agrário e do agronegócio, destacou que obrigar produtores a contratar seguros ou títulos para liberar financiamentos configura prática abusiva, prejudicando especialmente agricultores familiares. Ele também criticou a falta de cumprimento do alongamento de dívidas rurais, previsto em lei, o que força produtores a buscar novos empréstimos e aumenta o endividamento.
Moratória da Soja
Outro ponto debatido foi a Moratória da Soja. A deputada Coronel Fernanda criticou o pacto comercial firmado entre empresas e ONGs, que, segundo ela, transformou-se em restrição permanente e dificulta o acesso ao crédito até de produtores que cumprem o Código Florestal. “Não podemos permitir que acordos privados se sobreponham à legislação brasileira”, afirmou.
Fiscalização e transparência
Os representantes do setor produtivo reforçaram a necessidade de maior fiscalização sobre as instituições financeiras e pediram simplificação nas garantias exigidas para pequenos e médios produtores. Já a Febraban, representante das instituições de crédito, defendeu que os bancos seguem as normas legais e que casos de irregularidades são exceções, comprometendo-se a apurar as denúncias.
Além disso, a audiência também abordou a importância de assegurar liberdade de escolha e informação adequada aos produtores rurais, em conformidade com os artigos 6º e 39 do Código de Defesa do Consumidor.
Por fim, a comissão sinalizou a possibilidade de encaminhar recomendações ao Ministério da Agricultura e ao Banco Central para aprimorar os mecanismos de fiscalização e garantir que o crédito rural cumpra seu papel social e econômico.
“O produtor rural é o elo mais frágil dessa cadeia. Cabe a nós garantir que ele tenha acesso justo ao crédito e às informações necessárias para seguir produzindo com dignidade”, concluiu Coronel Fernanda.
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Crédito rural em queda reforça busca por soluções de longo prazo

A liberação de crédito rural caiu 12% nos primeiros três meses do Plano Safra 2025/26, com retração mais acentuada entre grandes produtores. No período, foram acessados R$ 156 bilhões em financiamentos tradicionais e por meio da Cédula de Produto Rural (CPR), conforme balanço preliminar do Ministério da Agricultura (Mapa).
A redução já vinha sendo observada desde o ano passado e reflete principalmente restrições bancárias e aumento da inadimplência. Segundo David Télio, diretor de Novas Estruturas Financeiras da TerraMagna, há muitos produtores com dívidas de safras anteriores, o que impede novos financiamentos.
“Produtores assim ficam fora das condições de elegibilidade para o novo Plano Safra 2025/26. Muitos ainda têm pendências de safras anteriores, não conseguem quitar e, portanto, não têm acesso a novos créditos”, explica.
Restrição de crédito e novas exigências
Um dos principais motivos, de acordo com Télio, é o endurecimento dos critérios de risco adotados pelos bancos e pelo mercado de capitais. Após perdas com grandes contas, instituições financeiras passaram a pulverizar as carteiras, priorizando pequenos e médios produtores. Além disso, a exigência de garantias aumentou.
“Até 2022, muitos bancos operavam apenas com CPR. Agora, pedem também hipoteca ou alienação fiduciária da área”, diz o especialista. As mudanças seguem orientações do Banco Central, que determinou provisões maiores para operações de risco.
Outro fator é o impacto das restrições socioambientais. Télio explica que desde 2023, produtores com embargos não podem acessar recursos controlados do Plano Safra. “Identificamos uma quantidade relevante de produtores nessa condição. Até então, poucos se preocupavam com isso”, ressalta.
Orçamento limitado e crédito privado em alta
A liberação fracionada dos recursos do Plano Safra 2025/26 também pressiona o fluxo. Parte dos valores só estará disponível a partir de janeiro de 2026, uma novidade neste ciclo. O orçamento, porém, pesa. “O governo subsidia a diferença de juros entre o mercado e o Plano Safra, mas o orçamento está muito apertado. Há risco de falta de espaço para novos subsídios no próximo ano”, afirma Télio.
Com isso, o crédito privado vem ganhando espaço, mas com custos altos. “Não é uma opção, é a única solução. Como os juros subsidiados são insuficientes, o produtor recorre a taxas de mais altas no mercado”, explica.
Alongar prazos e renegociar dívidas
Para os produtores que enfrentam dificuldades, Télio destaca que a saída é negociar e buscar fôlego por um período mais longo. “É hora de conversar com os credores e apontar soluções de médio e longo prazo. Não é o momento de buscar lucro, e sim de continuar respirando, plantando e mantendo o negócio”, diz.
Télio cita alternativas que vêm ganhando espaço, como operações via Fiagro, que permitem alongar dívidas ou recomprar áreas em prazos de cinco a dez anos. “O fundo compra a terra do produtor, quita parte da dívida, e o produtor paga um arrendamento até recomprar. É uma estrutura que alivia o caixa e mantém a produção”.
Ele lembra, entretanto, que o processo será lento: “Não se resolve em um ou dois anos. Devem ser necessárias de três a quatro safras para o produtor reorganizar o fluxo e voltar a respirar”, pondera.
Apesar do cenário de juros altos e crédito restrito, Télio reforça que o campo segue produzindo. “É por isso que seguimos batendo recordes de produção mesmo com menos crédito disponível”.
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Produção de cacau cai 16% no terceiro trimestre e setor segue pressionado

A moagem de cacau no Brasil recuou 16,6% no terceiro trimestre de 2025, totalizando 46,1 mil toneladas, segundo dados do SindiDados – Campos Consultores, divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). No acumulado do ano, foram 144 mil toneladas, uma queda de 15,1% em relação a 2024.
De acordo com a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi, o setor ainda enfrenta um cenário de altos custos de matéria-prima, demanda enfraquecida e margens comprimidas, o que limita a retomada da produção.
“O recebimento mostrou algum alívio pontual, mas a moagem ainda não acompanhou esse movimento”, afirma.
O recebimento de amêndoas somou 68,2 mil toneladas no trimestre, alta de 2,4% frente ao mesmo período do ano passado. No acumulado de janeiro a setembro, o volume foi de 126,4 mil toneladas, praticamente estável. Mesmo assim, há déficit de cerca de 18 mil toneladas entre o recebido e o processado.
O trimestre marcou o fim do ano-safra 2024/25, com 180,8 mil toneladas, abaixo da safra anterior e distante do pico de 2022/23 (215 mil toneladas). Para Losi, a recuperação ainda depende de melhores condições climáticas e continuidade dos investimentos no campo.
As exportações de derivados de cacau (manteiga, pó e líquor) somaram US$ 135,9 milhões, queda de 1,4% em valor e de 19,7% em volume. As vendas para os Estados Unidos cresceram 26% em valor, mas caíram 11% em volume, refletindo os efeitos das tarifas adicionais de 50% impostas pelos EUA.
“Os primeiros efeitos das tarifas já são evidentes. Há cancelamentos e renegociações de contratos”, alerta Losi.
No cenário internacional, o mercado segue volátil, com preços elevados e redução da demanda global diante do custo alto da matéria-prima e margens estreitas das indústrias processadoras.
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