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Agro Mato Grosso

Como o agronegócio deu a MT propriedades mais caras do País

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De 2019 a 2024, preços das terras com agricultura e pastagem no Brasil subiram quase 4 vezes mais que a inflação do período

Uma fazenda de 66 mil hectares de terras com aptidão para lavoura e pecuária, com uma mansão como casa sede e pista de pouso asfaltada homologada para jatos está à venda por R$ 5,8 bilhões.

A propriedade, fica em Nova Ubiratã (520 km ao Norte de Cuiabá), em Mato Grosso, e lidera o ranking das dez fazendas mais caras à venda no Brasil, segundo uma plataforma especializada em terras rurais.

Todas têm preços na casa dos bilhões.

 

A força do agronegócio, que este ano vai colher uma safra recorde de 339,6 milhões de toneladas – volume puxado pela soja, com 169,5 milhões de toneladas -, deu um impulso impressionante aos preços das terras agrícolas do Brasil.

Entre as dez propriedades rurais mais caras listadas pela plataforma Chãozão (especializada nesses negócios) a pedido do Estadão, quatro estão em Mato Grosso – três são as primeiras do ranking.

O Estado é o celeiro de grãos do Brasil e algumas dessas fazendas bilionárias ficam no eixo da BR-163, conhecida como a rota da soja.

Para Geórgia Oliveira, CEO da Chãozão, a valorização das terras na região nos últimos cinco anos acompanhou a evolução do agronegócio.

“Esse movimento foi particularmente intenso no Centro-Oeste, especialmente em Mato Grosso, e nas fronteiras agrícolas, como o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e Sealba (Sergipe, Alagoas e Bahia).

Em algumas regiões, os preços mais do que dobraram.”

De 2019 a 2024, as terras com agricultura e pastagem no Brasil subiram, respectivamente, 113,3% e 116,3%, segundo pesquisa da Scot Consultoria.

A inflação no período foi de 33,63%.

De acordo com o Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a alta nos preços da terra no Brasil acompanha a valorização dos ativos agrícolas.

O aumento na produtividade, uma constante no agro brasileiro, faz com que o potencial de valorização aumente ainda mais.

Os aumentos médios nos preços foram maiores nas regiões de fronteira agrícola, como Rondônia (299,1%) e Mato Grosso (189,1%), do que nos estados de produção mais consolidada, como Paraná (107,7%) e São Paulo (93%).

“ A demanda ascendente por terras reflete-se, de forma direta, no preço dos ativos agrários, quando cresce o potencial de valorização das commodities”, diz o estudo.

PROCURA EM MATO GROSSO – No caso de Mato Grosso, diz Geórgia, em função de sua vocação agrícola fortemente voltada à produção de grãos, se observou no último ano um aumento significativo na procura por terras, com destaque para o eixo da BR-163, que se consolidou como um dos corredores mais estratégicos do agronegócio brasileiro.

Segundo a Chãozão, essa valorização das terras é resultado de uma combinação de fatores estruturais:

1. Alta rentabilidade das lavouras de grãos e fibras (soja, milho e algodão): a valorização internacional das commodities agrícolas aumentou a atratividade da região para investidores;

2. Crescente demanda global por alimentos: com o Brasil ocupando papel de destaque como fornecedor, o Mato Grosso lidera essa produção;

3  Avanços na infraestrutura logística e nos modais de escoamento: melhorias em rodovias, como a BR-163, ferrovias e portos que reduziram os custos e aumentaram a competitividade;

4.Entrada de fundos de investimento e capital estrangeiros: grupos nacionais e internacionais adquiriram grandes áreas no Estado, o que aqueceu ainda mais o mercado;

5. Adoção de tecnologias agrícolas de ponta: além de elevar a produtividade geral, tornou produtivas áreas que antes eram subutilizadas.

Para a especialista, esses fatores têm transformado Mato Grosso – especialmente sua faixa central – em um dos territórios mais valorizados e promissores do País.

“Hoje, temos mais de 700 imóveis rurais à venda em todo o Estado de Mato Grosso”, diz.

Os negócios bilionários são tratados com grande discrição, mas alguns acabam sendo revelados.

É o caso de duas fazendas adquiridas no ano passado pelo Grupo Bom Futuro pelo valor de aproximadamente R$ 2 bilhões.

Ambas ficam em Mato Grosso, uma em Ipiranga do Norte, a outra em São José do Rio Claro, somando 43 mil hectares.

São áreas propícias para o cultivo de soja, milho e algodão.

Os irmãos Maggi Scheffer, do Bom Futuro, são considerados os maiores produtores individuais de soja do mundo e, no Brasil, estão entre os maiores produtores também de milho e algodão.

Com a aquisição, mediante pagamento à vista, o grupo passa a deter mais de 650 mil hectares de terras apenas em Mato Grosso.

PREÇOS RECORDES – A fazenda mais cara à venda na plataforma, em Nova Ubiratã, tem 66 mil hectares com terras de dupla aptidão, segundo a Chãozão.

Ou seja, servem tanto para agricultura quanto para pecuária. São terras já testadas em cultivos de algodão, soja, milho, com estrutura também para gado de corte e suinocultura. Nesta safra, foram cultivados 33 mil hectares de soja e 16 mil de algodão.

A área de pastagem soma 7,4 mil hectares – cabe ali um rebanho de ao menos 20 mil cabeças -, mas há também um confinamento para 30 mil cabeças.

A topografia é plana, levemente ondulada. De 23% a 48% é de solo argiloso, firme para o trabalho com máquinas.

A estrutura inclui armazéns e algodoeira suficientes para processar e guardar 100% da produção, além de oficinas, casas de funcionários e alojamentos.

A casa sede é uma mansão, com piscinas, churrasqueiras e outros equipamentos de lazer.

O ponto alto é uma pista de pouso asfaltada, homologada para jatos e com hangar para seis aeronaves.

Um detalhe curioso é que, no interior da fazenda se formou um distrito oficial de Nova Ubiratã, o Distrito Água Limpa, com praças, escolas de ensino fundamental, escola agrícola com cursos técnicos e tecnológicos, restaurantes, mercados, lojas de confecções, oficinas, borracharias, posto de combustível, lojas e agências bancárias, além de residências.

A segunda mais cara, oferecida por R$ 5 bilhões, fica em Paranatinga (375 km ao Norte de Cuiabá), e tem pista de pouso e hangar.

A área total é de 88 mil hectares, sendo 30 mil para lavouras e 18 mil de pastagens.

A terceira em valor – R$ 4,5 bilhões – está em São Félix do Araguaia (1.200 km a Nordeste de Cuiabá) na divisa com Tocantins.

É uma propriedade extensa, com 121 mil hectares.

Devido a contratos de confidencialidade, a plataforma não revela os nomes dos proprietários das terras.

IMPULSO DO AGROINDÚSTRIA – O avanço da agroindústria também contribuiu para a valorização das terras no Estado.

De acordo com a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), de 40 biorrefinarias em operação ou em construção no Brasil, 17 estão em Mato Grosso.

Das 11 plantas que já operam, seis usam apenas o cereal e cinco são flex, usando milho e cana.

Há outras seis plantas programadas para construção no Estado. São investidores brasileiros e norte-americanos que decidiram ficar próximos das lavouras para reduzir o custo logístico.

A Inpasa, maior biorrefinaria de etanol da América Latina, está em Sinop desde 2019.

No ano passado, a empresa produziu 3,7 bilhões de litros de etanol a partir de milho produzido na região.

Recentemente, a agroindústria passou a usar também o sorgo, um grão mais rústico, cultivado principalmente por pequenos agricultores.

A empresa produz também óleos vegetais e derivados da produção de etanol, como os DDGS (Grãos Secos de Destilarias com Solúveis), utilizados em rações animais.

As plantas de etanol revolucionaram a produção de milho na região, antes afetada pelo alto custo do frete, que reduzia o valor pago ao produtor.

Agora, grande parte do milho de segunda safra é absorvida pelas biorrefinarias e não precisa viajar para os portos do Sudeste e do Norte.

As usinas agregaram valor ao cereal. Com uma tonelada de milho é possível produzir 450 litros de etanol, 212 kg de DDGS e 19 kg de óleo de milho.

Se Mato Grosso fosse um país, estaria entre os dez maiores produtores de grãos do planeta.

Só em soja, seria o terceiro, empatado com a Argentina.

Somando soja e milho, o Estado brasileiro supera os grãos argentinos (soja, milho e trigo) em 20 milhões de toneladas.

Com 903 mil km2, a extensão territorial de Mato Grosso equivale à de três Itálias.

Líder na produção de soja, milho e algodão, o Estado possui também o maior rebanho bovino do país, com 34,2 milhões de cabeças, ou 14,6% do rebanho nacional.

Técnicas de manejo como a Integração Lavoura Pecuária (ILP) permitem usar grandes áreas de pastagens para a produção de grãos.

O manejo integrado das terras possibilita que o produtor tenha três safras anuais, sendo duas de grãos ou fibras, e a terceira de carne.

INTERESSE ESTRANGEIRO – A CEO da Chãozão revela que a busca de fazendas no Brasil por estrangeiros também é intensa.

Este ano, até agora, o site da plataforma registrou 113 mil buscas por americanos, 17 mil por ingleses, 12 mil de chineses, 7,6 mil alemães, 6,3 mil australianos e 4,9 mil procedentes de Portugal.

A compra de terras por estrangeiros no Brasil é permitida com restrições, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Se for área próxima às fronteiras ou na Amazônia Legal, é necessária aprovação do Conselho de Defesa Nacional (CDN).

A aquisição de propriedades com mais de 20 módulos de exploração indefinida (MEI) precisam de precisam de autorização prévia do Incra.

Cada módulo pode chegar a 100 hectares, dependendo da região.

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Governo de MT licita mais R$ 233 milhões em obras de infraestrutura

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As melhorias para a população serão realizadas em diversas regiões do Estado

A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra) está com dez processos de licitação abertos para realização de obras em diversas regiões do Estado. O investimento previsto é de R$ 233 milhões para asfaltar rodovias, construir pontes, recuperar estradas e também para asfalto urbano.

No total, serão asfaltados 91,8 quilômetros de rodovias, recuperados 22,9 km e quatro novas pontes de concreto serão construídas, sendo a maior delas com 80 metros de extensão.

O Governo de Mato Grosso vai asfaltar 33,5 km da MT-130 nos municípios de Nova Ubiratã e Feliz Natal. O projeto prevê que as obras sejam realizadas entre a ponte sobre o Rio Ronuro e o entroncamento com a MT-225.

A obra representa mais um passo para transformar a MT-130 em um dos principais corredores logísticos de Mato Grosso. A licitação para contratar a empresa responsável será realizada no dia 21 de outubro, com investimento previsto em R$ 81,9 milhões.

Outra licitação em andamento é para asfaltar 39,9 km da MT-199 em Vila Bela da Santíssima Trindade. Com um orçamento de R$ 57,3 milhões, a obra vai levar o asfalto até a divisa com a Bolívia. A licitação será realizada no dia 15 de outubro.

Também está aberta a licitação para asfaltar 12 km da MT-440, em Comodoro, com um custo estimado em R$ 29,6 milhões. Já o valor da licitação que vai asfaltar 6,33 km da do Anel Viário de Paranatinga, unindo a MT-020 até a MT-130 é de R$ 13,7 milhões. Essas licitações estão marcadas para os dias 21 e 22 de outubro.

A Sinfra-MT ainda vai restaurar 22,9 km da MT-412, que liga o município de Canabrava do Norte até a BR-158, sendo o principal acesso da cidade. A concorrência está marcada para o dia 17 de outubro e o valor estimado é de R$ 57,3 milhões.

Construção de pontes

As quatro pontes previstas em licitação serão construídas em diversas regiões do Estado. A maior delas, com 80 metros de extensão, está localizada sobre o Rio Tanguro, na MT-110, na divisa entre Canarana e Querência. O valor da obra é de R$ 6 milhões, com o certame agendado para o dia 15 de outubro.

Há ainda licitações marcadas para construir uma ponte de 30,5 metros sobre o Córrego Bisca, na MT-340 em Araguainha (R$ 3 milhões), outra de 33,5 sobre o Córrego Piçarras na MT-244 em Chapada dos Guimarães (R$ 3,6 milhões) e mais uma com 65 metros sobre o Rio Branco, na MT-491, em Ipiranga do Norte (R$ 5,3 milhões).

Asfalto em bairros

A última licitação é para asfaltar ruas do bairro Aroldo Fanaia em Cáceres. Está previsto também a execução da drenagem das águas de chuva, sinalização e construção de calçadas. O valor desta obra está estimado em R$ 4,2 milhões, com a licitação marcada para o dia 23 de outubro.

Todas as concorrências públicas serão realizadas por meio do Sistema de Aquisições Governamentais (Siag).

As informações sobre o edital e os documentos podem ser encontrados no site da Sinfra-MT.

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Casal deixa vida urbana e transforma chácara em modelo de produção agroecológica com apoio da Seaf e Empaer

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Ex-servidores públicos Gebrair Pinheiro e Márcia Krindgies investiram no sonho de viver da terra

O casal Gebrair Pinheiro e Márcia Krindgies deixou a vida de servidores públicos em Lucas do Rio Verde para investir no sonho de viver da terra. Há três anos, eles adquiriram o Sítio Nossa Senhora das Graças, em Tapurah, e transformaram a antiga área de vegetação nativa em um modelo de produção agroecológica, com destaque para o cultivo de abacaxi. A propriedade é uma das 28 beneficiadas com kits de irrigação entregues pela Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf) e conta com assistência técnica da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer).

Instalados em uma propriedade de 4 hectares, sendo 2,4 hectares destinados ao cultivo, o casal se dedica à produção de alimentos orgânicos como abacaxi, mandioca e batata-doce. O carro-chefe é o abacaxi, que já alcançou a impressionante marca de 18 mil pés plantados.

O início foi despretensioso. “Tínhamos um dinheiro guardado e pensamos em comprar uma chácara apenas para lazer. Mas meu esposo ganhou 300 mudas de abacaxi e decidiu plantar. Aos poucos, fomos gostando e tomando gosto pela produção”, contou a Dona Márcia.

Gebrair relembra com orgulho os primeiros passos: “Aqui era tudo mato. Da primeira vez colhi, replantei e fui aumentando. Hoje temos uma produção consolidada”, destacou.

Segundo o técnico da Empaer de Itanhagá, Alfredo Neto, que atende o casal em Tapurah, a história da família é um caso de sucesso. “Eles seguem as orientações, fazemos as análises de solo e, sob nossa orientação, eles utilizam caldas agroecológicas e têm uma participação ativa. É um exemplo de como o apoio técnico e o trabalho familiar caminham juntos para o desenvolvimento rural sustentável”, ressaltou.

Os kits de irrigação entregues pela Seaf foram instalados com apoio da prefeitura, garantindo segurança hídrica e manutenção da produção durante o período de estiagem.

“Esse kit de irrigação nos ajuda muito. Produzir sem água é quase impossível. Agradecemos ao Governo do Estado e à Seaf por esse apoio. Nosso desejo é que mais famílias sejam beneficiadas”, agradeceu o casal.

Hoje, o Sítio Nossa Senhora das Graças gera uma renda média de R$ 4 mil líquidos por mês, exclusivamente da produção agrícola. Além disso, o casal participa do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), ampliando o acesso a mercados institucionais e garantindo a comercialização de seus produtos e também do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

“Eu era motorista e já falei para minha esposa, o resto da nossa vida será aqui”, afirmou Gebrair. “Eu encontrei na agricultura familiar a realização dos meus sonhos”, completou dona Márcia.

O secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Meio ambiente, Marozan Ferreira Barbosa, destaca a atuação articulada entre governo estadual entre associações e cooperativas.  “Temos uma cadeia produtiva muito bem organizada em Tapurah. Desde apicultura até o cultivo de frutas, os projetos têm sido atendidos com o apoio da Seaf. É gratificante ver resultados como o do casal Gebrair e Márcia, que são exemplo de que a agricultura familiar é sinônimo de desenvolvimento e sustentabilidade”, ratificou o secretário.

Investimentos do Estado na agricultura familiar de Tapurah

Entre 2019 e 2025, o Governo de Mato Grosso, por meio da Seaf, investiu mais de R$ 2,6 milhões em ações voltadas ao fortalecimento da agricultura familiar em Tapurah. Foram entregues máquinas, veículos, kits de irrigação, tanques resfriadores de leite, barracas de feira, além do fomento de programas como o Proleite e a distribuição de sêmen bovino, que beneficiam diretamente as famílias do campo.

O município conta com 803 propriedades rurais familiares, que representam 53% da área produtiva da agropecuária local, um indicador claro da importância da agricultura familiar para a economia e o abastecimento alimentar da região.

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Robô usa luz para diagnóstico precoce de doença em algodão e soja

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Um sistema robótico independente, que opera à noite, batizado de LumiBot, é capaz de gerar dados que permitem a construção de modelos para fazer o diagnóstico precoce de nematóides em plantas de algodão e soja antes mesmo do aparecimento dos sintomas. Desenvolvido pela Embrapa Instrumentação (SP) em parceria com a Cooperativa Mista de Desenvolvimento do Agronegócio (Comdeagro), de Mato Grosso, o LumiBot emite luz ultravioleta-visível sobre as plantas e analisa a fluorescência capturada nas imagens das folhas, com câmeras científicas.

A cotonicultura e a sojicultura têm enorme relevância econômica para o País, com previsão de recorde de safra no período 2025/26, com 4,09 milhões de toneladas de pluma e 177,67 milhões de toneladas de grãos de soja, segunda estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No entanto, as duas culturas enfrentam a ameaça da parasita microscópica de 0,3 a 3 milímetros de comprimento.

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Foto: Wilson Aiello

Taxas de acerto acima de 80%

O robô é um protótipo, mas já registra resultados promissores no diagnóstico de infecção por nematoides em experimentos realizados em casa de vegetação, com cerca de sete mil imagens coletadas em três anos de pesquisa.

“Conseguimos gerar dados e modelos com taxas de acerto acima de 80%, além de diferenciar as doenças do estresse hídrico”, conta a pesquisadora Débora Milori , coordenadora do estudo e do Laboratório Nacional de Agrofotônica (Lanaf).

A próxima etapa do estudo será o desenvolvimento de um equipamento para operação em campo, como, por exemplo, adaptar o aparelho óptico em um veículo agrícola do tipo pulverização gafanhoto ou veículo rover.

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Apresentação do robô durante o Siagro

O LumiBot será apresentado no Simpósio Nacional de Instrumentação Agropecuária (Siagro), que será realizado de 14 a 16 de outubro, no Laboratório de Referência Nacional em Agricultura de Precisão (Lanapre), localizado no Campo Experimental em Automação Agropecuária, da Embrapa Instrumentação , em São Carlos (SP).

Menos químicos na lavoura

De acordo com a pesquisadora, o método convencional de controle de nematoides baseia-se na aplicação de nenematicidas aplicados no solo ou nas sementes, antes do plantio. Esses produtos estão diminuindo a população de nematóides próximos às raízes. Entretanto, essa aplicação tem custo elevado, pode causar impacto ambiental e eficácia variável dependendo das condições do solo. Outras estratégias de controle são através do controle biológico, rotação de culturas e desenvolvimento de cultivares resistentes.

“Uma alternativa mais eficiente e econômica seria o monitoramento da área plantada, com a aplicação de estratégias de controle apenas nas regiões eventualmente infestadas. No entanto, ainda não existem equipamentos comerciais capazes de detectar precocemente a presença da doença nas plantas. Nesse contexto, o uso de técnicas fotônicas surge como uma solução promissora”, declara o coordenador do estudo.

Para o consultor da Comdeagro, Sérgio Dutra, o diagnóstico precoce de doenças é fundamental para que os agricultores possam agir rapidamente e de forma localizada. “Com isso, evita-se o uso excessivo de produtos químicos defensivos e a redução do impacto ambiental, um avanço importante para a agricultura de precisão no Brasil. É possível ainda melhorar a qualidade da fibra e garantir maior rentabilidade para o produtor”, garante o especialista.

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Foto: Wilson Aiello

Como funciona a tecnologia para detecção de doenças

O LumiBot leva embarcado a técnica fotônica de Imagem de Fluorescência Induzida por LED (diodo emissor de luz). A LIFI, na sigla em inglês, é uma técnica não destrutiva que permite uma aquisição rápida de dados de processos fisiológicos da planta por meio de uma imagem. “A imagem obtida resultado da condução das folhas com luz ultravioleta-visível, que induz compostos moleculares, como a clorofila e alguns metabólitos secundários, a emitirem luz por meio do processo de fluorescência”, explica Milori.

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Foto: Wilson Aiello

O robô coleta os dados, que são processados ​​por algoritmos treinados para verificação de padrões em imagens, a partir dos quais são construídos modelos associados a doenças específicas.

A captura das imagens, realizada em apenas sete segundos e de forma simultânea à iluminação, ocorre em ambiente escuro para evitar a atividade fotossintética da planta e eliminar interferências de outras fontes de luz no sinal de fluorescência registrado pelas câmeras.

O robô se desloca por meio de trilhos presos no piso entre as fileiras dos pés de algodão, avaliando as folhas com um feixe de luz de alta intensidade. De acordo com Débora Milori, a técnica indica diferentes tipos de estresse biótico (fungos, bactérias e vírus) ou abióticos, como deficiências nutricionais e falta de água, por exemplo.

“As imagens captadas pela câmera em cada posição da amostra são gravadas em um dispositivo externo (SSD) portátil, onde ficam armazenadas e disponíveis para análise. Cada amostra recebe uma identificação única, explicada o pós-doutorando Tiago Santiago.

Ele é responsável pela análise de dados, das imagens e pelo treinamento de modelos de aprendizado de máquina. A equipe é composta por estudantes de diferentes áreas do conhecimento e por atuações distintas dentro do projeto.

Vinícius Rufino é graduando em engenharia física e atua na instrumentação e análise de dados, Julieth Onofre, doutora em Física, cuida da área da instrumentação óptica, Gabriel Lupetti, graduando em biotecnologia e responsável pelo acompanhamento do desenvolvimento dos nematoides, a inoculação e processamento das espécies vegetais, Kaique Pereira, biólogo responsável pela manutenção das plantas, a inoculação e concentração de nematoides.

Prova de conceito

O LumiBot tem o suporte da Embrapii Itech-Agro (Integração de Tecnologias Habilitadoras no Agronegócio) da Embrapa Instrumentação, que busca desenvolver o protótipo do equipamento para minimizar custos e alavancar a cadeia produtiva da soja e do algodão. A Embrapii é uma organização social que conecta empresas e instituições de pesquisa para desenvolver inovações, como o LumiBot.

O projeto envolve o desenvolvimento de uma prova de conceito para diagnóstico precoce de doenças com técnicas fotônicas em sistemas produtivos de algodão, em parceria com a Comdeagro.

O projeto físico e de automação foi desenhado em parceria entre a Embrapa Instrumentação e a empresa Equitron Automação, de São Carlos (SP), sob medida para o funcionamento na casa de vegetação.

A fotônica é um ramo da física que estuda aplicações de luz, sua geração, manipulação e detecção. As técnicas são largamente aplicadas em várias áreas pela sua sensibilidade, precisão e alto potencial de portabilidade.

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Foto: Wilson Aiello

Os nematoides

Nematoides são vermes microscópicos abundantes no solo, água doce e salgada e muitas vezes são parasitas de animais, insetos e também de plantas, segundo a Embrapa. Eles atacam as raízes, trazendo a absorção de água e nutrientes, o que resulta em redução do crescimento da planta e perdas de produtividade.

O experimento para diagnóstico da praga está sendo prolongado com 400 plantas em vasos em casa de vegetação, separados em quatro grupos de 100 – controle, estresse hídrico, inoculadas com o nematoide Aphelenchoides besseyi, e inoculadas com o nematóide Rotylenchulus reniformis, espécies mais comuns encontradas nas lavouras.

Segundo Kaique Pereira, o nematoide Rotylenchulus reniformis causa o comprometimento das plantas, reduzindo os rendimentos da plantação, sendo frequente em regiões tropicais e subtropicais do país, enquanto o Aphelenchoides besseyi é responsável pelos sintomas de pressa verde, retenção foliar e deformações de tecidos da planta, comuns em ambientes quentes e úmidos, fatores essenciais para seu desenvolvimento.

“Os nematóides são um problema muito sério no cultivo do algodão e resultam em muitas perdas para os agricultores, principalmente para o Estado do Mato Grosso”, diz Sérgio Dutra, consultor da Comdeagro.

O pesquisador do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), Rafael Galbieri, diz que não se sabe ao certo quanto a produtividade está sendo perdida na função dos nematóides em Mato Grosso.

“O fato é que existem localidades onde há perdas expressivas e outras onde o problema é menor. Há relatos de perdas de 50% a 60% em casos extremos, com média de até 10% a 12% em determinadas regiões. Estima-se uma perda anual superior a 4 bilhões de reais na cultura do algodoeiro em função de problemas relacionados a nematoides. Existem vários exemplos de áreas de produção que são inviáveis ​​pela infestação dessas parasitas”, relata o doutor em agricultura tropical.

Com a soja não é diferente. O prejuízo é de R$ 27,7 bilhões, de acordo com estudo da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), Syngenta e consultoria Agroconsult.

“Geralmente, as perdas mais expressivas associadas aos nematóides são observadas em culturas como soja e algodão. No entanto, já é possível constatar que esses patógenos afetaram a produtividade de praticamente todas as culturas agrícolas do País, muitas vezes de forma ainda mais acentuada do que nas grandes culturas”, afirma a presidente da SBN, Andressa Cristina Zamboni Machado.

Segundo ela, o Brasil abriga diversas espécies de nematóides altamente prejudiciais, disseminadas amplamente por todas as regiões agrícolas e responsáveis ​​por extensas perdas econômicas no agronegócio. “Entretanto, esses organismos nem sempre são corretamente revelados ou gerenciados, o que agrava ainda mais seus efeitos sobre a produção”, conta.

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