Sustentabilidade
Senadores reagem à decisão de Trump de taxar em 50% produtos brasileiros Fonte: Agência Senado – MAIS SOJA

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil provocou forte repercussão no Senado. A medida, considerada inédita nas relações comerciais entre os dois países, foi duramente criticada por parlamentares da base governista, que classificaram o anúncio como um ataque à soberania nacional. Já os senadores da oposição responsabilizaram o atual governo, sua política externa e as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo agravamento da crise diplomática.
A Comissão de Relações Exteriores (CRE) divulgou nota reafirmando o compromisso do Parlamento com a construção de “relações internacionais estáveis” e com o diálogo. A comissão informou que mantém interlocução com a representação diplomática dos Estados Unidos no Brasil e que trabalha pelo envio de uma missão parlamentar a Washington.
“Medidas comerciais devem ser tratadas com responsabilidade e dentro dos marcos do direito internacional”, diz trecho do texto. Veja a íntegra ao final desta matéria.
Em seu comunicado oficial, a Casa Branca estipulou o dia 1º de agosto como data para que a nova tarifa entre em vigor.
União nacional
Parlamentares aliados ao governo brasileiro saíram em defesa de uma reação firme e diplomática. O líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), defendeu a união do país diante da medida americana.
“Não pode existir polarização quando o nosso país é atacado. Somos um só povo, uma grande nação. Não existem dois lados quando o que está em jogo são valores como a soberania, a pátria e a democracia. Conspirar contra o Brasil em território estrangeiro é crime de lesa-pátria, digno de covardes. O Brasil, como em outros momentos de sua história, superará as dificuldades e mais uma vez afirmará diante do mundo a sua capacidade como nação”.
Alessandro Vieira (MDB-SE) também destacou que a soberania brasileira deve ser defendida por todos.
“A soberania é o primeiro dos princípios fundamentais elencados pela Constituição. Nenhum cidadão, em especial os representantes eleitos pelo povo, pode acatar agressões estrangeiras contra o Brasil, não importa qual seja a suposta justificativa. É hora do verdadeiro patriotismo”.
Na mesma linha, Eliziane Gama (PSD-MA) classificou a medida como “uma agressão sem precedentes à nossa soberania”.
Motivação política
Para Fabiano Contarato (PT-ES), a decisão de Trump representa uma tentativa de interferência em favor do grupo político ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. No comunicado em que anunciou a nova tarifa, Trump criticou o processo contra Bolsonaro no STF por planejar um golpe de Estado após as eleições de 2022.
“Todos — empresários, produtores e o povo brasileiro — pagarão a conta pelo comportamento irresponsável, conspirador e subserviente a interesses estrangeiros de Jair Bolsonaro. É hora de reagirmos com firmeza. Patriota de verdade não se ajoelha nem presta continência para bandeira estrangeira. O Brasil não cederá a chantagens e não será refém das aspirações de golpistas ou de outros governos”.
Na carta encaminhada pelo governo americano nesta quarta-feira (9), Trump também pontua como uma das motivações para a aplicação da tarifa — a maior já anunciada por ele até agora — uma suposta interferência do STF contra empresas de tecnologia americanas. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), creditou ao deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) a responsabilidade pela taxação.
“A pedido da família Bolsonaro, Donald Trump anuncia a taxação em 50% de todos os produtos brasileiros, de forma autoritária e unilateral. O presidente norte-americano está confundindo a quem está se dirigindo. O Brasil não será quintal do país de ninguém. Quem decide a nossa vida somos nós. Que fique claro: o Brasil é dos brasileiros e não de capachos”.
O mesmo entendimento teve Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).
“É lamentável que o ex-presidente Bolsonaro continue agindo contra o nosso país. Nosso país é soberano. Não somos uma republiqueta. Viva o povo brasileiro”.
Responsabilidade de Lula
Entre os oposicionistas, a medida de Trump foi vista como consequência direta da atuação do governo brasileiro no cenário internacional. Para o líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), as ações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário internacional “isolaram” o país. Ele citou a ausência de um embaixador dos EUA no Brasil, a recepção a navios da Marinha iraniana e o apoio a regimes autoritários como sinais de “desprestígio”.
“Lula recebeu navios iranianos aqui no Brasil. Lula comparou Trump ao nazismo e ao fascismo. Lula defendeu uma corrupta presa na Argentina [a ex-presidente Cristina Kirchner]. Lula trouxe [em vôo da] FAB uma corrupta condenada por corrupção no Peru [a ex-primeira dama Nadine Heredia]. Lula pintou o mapa de um país invadido com as cores do invasor [em referência à guerra na Ucrânia]. Lula tem se colocado como uma figura decadente e já é criticado por boa parte da imprensa internacional. Tudo isso antes do anúncio das tarifas. Agora nos igualamos de vez aos regimes autoritários como Irã, Venezuela e Cuba, sofrendo sanções da maior democracia do mundo”.
Hamilton Mourão (Republicanos-RS) também apontou uma série de declarações e decisões recentes do presidente Lula como causa do desgaste com os EUA.
“O Brasil do governo Lula 3 conspirou abertamente contra o dólar na recente reunião do Brics, tem repetidamente atuado contra a liberdade de expressão, chamou [a guerra em] Gaza de holocausto, validou a eleição do tirano [Nicolás] Maduro [presidente da Venezuela] e fala barbaridades no ambiente internacional”.
Ciro Nogueira (PP-PI) disse que o presidente brasileiro trocou a diplomacia por “ataques infantis” e que, agora, tenta culpar Trump por suas falhas.
“O senhor, presidente Lula, não perdeu uma oportunidade para atacar com palavras o presidente da maior economia do planeta, a maior economia das Américas. Em vez de diplomacia, preferiu apostar em ataques infantis contra um país muito mais poderoso e mais forte do que o Brasil. E agora, após um governo que vai de mal a pior, o senhor vai tentar dizer que o seu fracasso é por causa do presidente Trump?”.
Já Flávio Bolsonaro (PL-RJ) aproveitou a situação para criticar sanções judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu pai.
“Se Lula não tem capacidade, poderia pedir ao Alexandre de Moraes [ministro do STF] para devolver o passaporte pro Bolsonaro, que ele vai pra lá e resolve”.
Eduardo Girão (Novo-CE) acrescentou que o Senado tem sido “parte do problema” por não se posicionar contra atitudes do governo brasileiro e do STF que, na sua visão, contribuíram para a imposição da tarifa.
“Falta de aviso não foi. A sanha de perseguição política e à liberdade de expressão no País é responsável por essa tragédia anunciada. O Senado é parte do problema por ter se omitido até aqui, mas pode se tornar a solução da crise pautando o impeachment dos que desrespeitam a nossa Constituição”.
Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) afirmou que o atual governo optou por “tensionar as relações com os Estados Unidos”, o que teria levado à sanção que “atinge diretamente” a economia nacional. Sérgio Moro (União-PR) classificou a tarifa como um erro dos EUA, mas criticou o “antiamericanismo infantil” de Lula. Jorge Seif (PL-SC) afirmou que a medida se trata de uma reação do mundo ao “autoritarismo travestido de democracia”.
Diplomacia e negociação
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Otto Alencar (PSD-BA), classificou como “exagerada” e “surpreendente” a decisão do presidente Donald Trump. Ele reforçou que o Brasil possui leis, que as instituições estão em pleno funcionamento e que não se pode aceitar interferência de nenhum país na legislação e no Judiciário brasileiros.
Otto acredita que haverá uma saída diplomática para o impasse, mas saiu em defesa do multilateralismo e do fortalecimento da relação comercial do Brasil com outros países, principalmente aqueles que fazem parte do Brics.
“O Brasil está certo em estabelecer, pela diplomacia, uma relação comercial ampla com os países do bloco europeu, com a Arábia Saudita, com a China, com a Rússia, para não ficarmos dependentes dos Estados Unidos e recebermos uma supresa dessa natureza. Esse componente político é frágil e não vai se sustentar. O Trump terá problema dentro do seu próprio país, até porque muitos produtos vão aumentar de preço por conta da taxação de 50% em cima do Brasil”.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), Nelsinho Trad (PSD-MS), ressaltou a importância dos canais técnicos de negociação que já vinham sendo utilizados para tratar das tarifas desde o início do mandato de Trump, em janeiro.
“Parlamento e Executivo devem se movimentar com equilíbrio e sensatez na busca do resultado para reverter essa situação. Os diálogos técnicos com os EUA vêm ocorrendo desde as primeiras tarifas de Trump. Defendo que o comércio, motor do desenvolvimento e do emprego, seja tratado com pragmatismo”.
Eduardo Braga (MDB-AM) também defendeu uma reação moderada do governo federal, mas sem abrir mão da defesa dos interesses nacionais brasileiros.
“O caminho para a solução das questões tarifárias anunciadas pelo governo americano é, inegavelmente, o da diplomacia. Não há mais espaço para uma lógica de vencedores e vencidos em um mundo tão interligado. É o momento do Brasil defender a sua soberania com serenidade, ao mesmo tempo em que reafirma os laços seculares de amizade e respeito que unem nossos povos”.
Reciprocidade
O Senado aprovou em abril o projeto que gerou a Lei da Reciprocidade, prevendo medidas a serem adotadas pelo Poder Executivo em resposta a barreiras comerciais impostas unilateralmente por outros países a produtos brasileiros. O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Renan Calheiros, lembrou da nova lei ao reagir ao anúncio de Donald Trump.
“O Brasil já dispõe de uma lei para retaliar protecionismos e terrorismos comerciais. A CAE puxou o tema e deu ao país, em apenas 48 horas, o meio legal para responder proporcionalmente às ameaças externas. Soberania não se negocia”.
A relatora do projeto, Tereza Cristina (PP-MS), defendeu a linha diplomática e de negociação técnica como a saída para o atual conflito.
“As nossas instituições precisam ter calma e equilíbrio nesta hora. A nossa diplomacia deve cuidar dos altos interesses do Estado brasileiro. Brasil e Estados Unidos têm longa parceria e seus povos não devem ser penalizados. Ambos têm instrumentos legais para colocar à mesa de negociação nos próximos dias “, disse ela, que foi ministra da Agricultura no governo de Jair Bolsonaro.
Já líder da oposição no Congresso, senador Izalci Lucas (PL-DF), disse ser contra uma retribuição por parte do governo brasileiro.
“Tem um prazo para que o Itamaraty tente negociar, porque é ruim para todo mundo. É ruim para os Estados Unidos, inclusive, essa sobretaxa. E o Brasil fazer essa mesma coisa não resolve o problema, muito pelo contrário, porque as nossas importações têm medicamentos e uma série de produtos que dariam um grande impacto na inflação brasileira. Cabe ao governo negociar. Vamos aguardar para ver se o governo tem essa competência”.
Nota da Comissão de Relações Exteriores
A Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal reafirma seu compromisso com a diplomacia parlamentar e o diálogo entre instituições. O Legislativo brasileiro tem papel relevante na construção de relações exteriores estáveis, responsáveis e coerentes com os princípios da soberania, no multilateralismo e da cooperação.
Mantemos uma interlocução franca e respeitosa com a representação diplomática dos Estados Unidos no Brasil, cujo encarregado de negócios esteve recentemente no Senado e propôs, inclusive, a realização de uma missão parlamentar a Washington como instrumento kegítimo de coordenação entre os dois países.
Entendemos que medidas comerciais devem ser tratadas com responsabilidade e dentro dos marcos do direito internacional.
A Comissão de Relações Exteriores seguirá atuando com equilíbrio para manter canais abertos com todos os parceiros estratégicos, ao mesmo tempo em que contribui para a ampliação da rede brasileira de alianças e acordos internacionais.
Fonte: Agência Senado
Sustentabilidade
Pará aprova ação judicial contra a moratória da soja

A Associação dos Produtores de Soja do Pará (Aprosoja-PA) aprovou por unanimidade o ingresso de ação judicial contra a moratória da soja, segundo nota divulgada nesta quarta-feira (23). A decisão foi tomada em assembleia geral na segunda-feira (21) e coloca o Pará ao lado de Mato Grosso e Rondônia na contestação judicial do acordo firmado em 2006.
O Pará é o segundo estado com maior área de soja no Bioma Amazônia, atrás apenas de Mato Grosso. A moratória da soja é um acordo voluntário entre tradings multinacionais e organizações não governamentais que proíbe a compra de soja cultivada em áreas do bioma desmatadas após julho de 2008, mesmo quando o desmatamento respeita os limites do Código Florestal.
“Não há mais espaço para omissão. O setor produtivo fez sua parte, alertou, buscou diálogo, tentou reformular. Agora é hora de reagir com firmeza. O que está em jogo não é só o direito de produzir – é o direito de existir”, disse o presidente da Aprosoja-PA, Vanderlei Ataídes, em nota.
Segundo a entidade, o Pará tem “vastas áreas de produção inseridas no Bioma Amazônia” e produtores paraenses “vêm sendo expurgados da atividade agropecuária há quase duas décadas, mesmo cumprindo o Código Florestal e todas as exigências legais nacionais”. A Aprosoja-PA classifica como violações aos princípios da livre concorrência a “imposição de critérios extralegais, a construção de listas negativas compartilhadas entre concorrentes e a prática de sanções privadas disfarçadas de compromisso ambiental”.
A ação será coordenada por uma “frente jurídica nacional que vem sendo estruturada com apoio de especialistas e das demais Aprosojas estaduais, em articulação com parlamentares, federações e entidades do agro”, segundo a nota. O objetivo é “reconstruir um ambiente de previsibilidade e respeito ao produtor que cumpre a lei – sem submissão a imposições estrangeiras disfarçadas de responsabilidade ambiental”.
A iniciativa do Pará ocorre enquanto Mato Grosso mantém duas frentes judiciais contra a moratória. A Aprosoja-MT protocolou em dezembro de 2024 uma representação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), alegando que as tradings formam um “cartel de compra” que controla mais de 95% das exportações brasileiras de soja. Em abril, ingressou com ação civil pública de R$ 1,1 bilhão contra 33 réus, incluindo ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus, além da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
No Supremo Tribunal Federal, o julgamento da constitucionalidade da Lei Estadual 12.709/2024 de Mato Grosso está suspenso desde junho por pedido de vista do ministro Dias Toffoli. A norma permite ao Estado vetar benefícios fiscais a empresas signatárias da moratória a partir de janeiro de 2026. Até a interrupção, o placar estava 2 a 0 pela manutenção da lei, com votos dos ministros Flávio Dino e Alexandre de Moraes.
A pressão judicial coincide com a proximidade da implementação da Regulamentação Europeia de Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), que entra em vigor em dezembro e exigirá rastreabilidade total de produtos agrícolas. As tradings defendem a moratória como diferencial para acesso ao mercado europeu, que representa 14% das exportações brasileiras de soja.
Relatório do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso (TCE-MT) revelou que empresas signatárias da moratória receberam R$ 4,7 bilhões em incentivos fiscais entre 2019 e 2024. A Bunge liderou com R$ 1,56 bilhão, seguida por ADM (R$ 1,31 bilhão), Cofco (R$ 661 milhões) e Cargill (R$ 594 milhões).
Dados da Abiove mostram que a área plantada com soja no Bioma Amazônia passou de 1,64 milhão de hectares em 2007/08 para 7,28 milhões em 2022/23. Na última safra, apenas 250 mil hectares dos 7,3 milhões de hectares de soja na Amazônia estavam fora da conformidade com a moratória. A Aprosoja-MT, por sua vez, alega que apenas 300 mil hectares foram desmatados em Mato Grosso após 2009 dentro do escopo da moratória, mas a restrição atinge 2,7 milhões de hectares no Estado. “Não é possível que uma cadeia estratégica para o país esteja sendo submetida a pactos paralelos ao Estado de Direito, celebrados por empresas que operam no Brasil mas decidem ignorar suas leis. Isso precisa ter um basta”, acrescentou Ataídes.
Sustentabilidade
Consórcio de bactérias no cultivo do milho aumenta a produtividade e reduz custo com fertilizantes nitrogenados – MAIS SOJA

O nitrogênio, ao lado do potássio e do fósforo, forma a trinca de macronutrientes primários que atuam no desenvolvimento vegetal conhecido como NPK. Entre esses três elementos essenciais, contudo, o nitrogênio costuma ser o mais caro e o que demanda o maior investimento por parte do produtor rural, ao passo que também é o mais exigido pelas plantas, sendo fundamental para o seu crescimento, pelo desenvolvimento das raízes e colaborando diretamente para a fotossíntese.
Se a fertilização nitrogenada é essencial para a maior parte produção agrícola, ela não vem sem um custo. Tendo em vista que sua eficiência raramente supera os 50% em virtude de perdas ocorridas nos processos de lixiviação, volatilização e desnitrificação, o uso do adubo por períodos prolongados ou em doses excessivas pode acarretar em sérios impactos ambientais.
A aplicação dos fertilizantes nitrogenados costuma estar associado à liberação de óxido nitroso, um gás com potencial de aquecimento da atmosfera 265 vezes superior ao de dióxido de carbono e que pode permanecer na atmosfera por mais de cem anos, além de contribuir para a destruição da camada de ozônio. No solo, o excedente de nitrogênio pode ser lixiviado em direção aos corpos d’água, sob o risco de causar a eutrofização de rios e lagos, levando ao crescimento exagerado de algas e plantas aquáticas, desequilibrando o ecossistema e causando mortandade de peixes, por exemplo.
Bactérias reduziram uso de fertilizantes na produção de soja
Nesse contexto, o Brasil se destaca globalmente como um caso bem sucedido de minimização na aplicação de fertilizantes nitrogenados em larga escala nos plantios de leguminosas, como a soja, com redução de custos para o produtor e do impacto ambiental. Essa característica da agricultura brasileira remonta aos anos 60, quando pesquisadores começaram a alcançar excelentes resultados em estudos que avaliavam a substituição desses adubos convencionais por microrganismos que são capazes de fixar o nitrogênio que já está presente na atmosfera e disponibilizá-lo para a planta. Entre as pioneiras desta área de estudo estão as pesquisadoras Johanna Döbereiner e Mariangela Hungria, que em maio de 2025 foi laureada com o Prêmio Mundial da Alimentação, apontado por muitos cientistas das Ciências Agrárias como o “Nobel da Agricultura”.
O sucesso brasileiro no uso de bactérias do gênero Bradyrhizobium para fixação de nitrogênio na cultura de soja foi apontado pela revista Frontiers in Microbiology como um dos 14 exemplos em todo o mundo de sucesso no uso de microrganismos para incrementar a produção agrícola. A publicação celebra, por exemplo, o uso da bactéria fixadora de nitrogênio em 80% da área de soja plantada na safra 2019/2020, uma técnica de manejo que conseguiu evitar o lançamento de 430 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera naquele período.
“Imagine você produzir uma cultura tão importante para o Brasil e para o mundo como a soja e, ao invés de aplicar 400 ou 500 quilos de fertilizante nitrogenado por hectare, você aplica uma bactéria capaz de tirar o nitrogênio da atmosfera e entregar para a planta em troca de alimento e proteção. Isso já acontece no Brasil há muitos anos, não é algo novo”, explica o engenheiro agrônomo Fernando Shintate Galindo, especialista no manejo sustentável de nutrientes. “Nos últimos dez ou quinze anos, contudo, nós temos visto uma evolução em metodologias e técnicas que têm permitido aos pesquisadores entender que existe uma infinidade de microrganismos que podem beneficiar outros cultivos além da soja”, afirma o professor do Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas (FCAT) da Unesp no câmpus de Dracena.
O pesquisador do câmpus de Dracena vem explorando diferentes tipos de microrganismos que promovam crescimento das plantas, reduzindo a quantidade de fertilizantes, mas mantendo, ou até ampliando, a produção. Em um de seus trabalhos, publicado na revista Plant Biology, da BioMed Central (BMC), Galindo, ao lado de uma equipe de pesquisadores, buscou avaliar os benefícios da inoculação de duas bactérias ao mesmo tempo na cultura do milho: a Azospirillum brasilense, conhecida pela sua capacidade de fixar nitrogênio no solo e no estímulo ao crescimento da planta, e a Bacillus subtilis, promotora do crescimento radicular e capaz de atuar na resistência a pragas e doenças.
O trabalho durou cerca de dois anos e fez parte de um estágio de pós-doutorado com apoio da Fapesp. O ensaio de campo, realizado em três localidades diferentes, envolveu quatro configurações para o plantio do milho: um grupo controle, um grupo que recebeu apenas a aplicação da Azospirillum brasilense, um que recebeu apenas a aplicação de Bacillus subtilis, e por fim, um quarto grupo que recebeu ambos os microrganismos. Além disso, foram testadas diferentes taxas de aplicação de fertilizantes nitrogenados em cada grupo.
Mais produtividade por um custo menor
A partir de então, os pesquisadores acompanharam cada etapa do crescimento dos lotes para poder comparar as respostas fisiológicas e bioquímicas das plantas sob cada um dos cenários, incluindo parâmetros relacionados à fotossíntese, ao estresse oxidativo e ao uso do nutriente, como a sua capacidade de recuperar o nitrogênio do solo e aumentar a eficiência do seu uso.
Entre os principais resultados encontrados pela equipe está a confirmação de que o consórcio de bactérias, mesmo com algumas características distintas, juntamente com uma dose ideal de nitrogênio, foi capaz de melhorar a eficiência no uso do macronutriente, bem como foi capaz de promover o crescimento aéreo e radicular das plantas. A inoculação combinada de Azospirillum brasilense e de Bacillus subtilis também teve efeito sobre parâmetros relacionados à fotossíntese, aumentando a captação e assimilação de CO2, a transpiração e a eficiência do uso da água, enquanto diminuiu o estresse oxidativo.
“Nesse estudo, nós observamos que de fato a inoculação complementa a adubação nitrogenada com excelentes resultados, mas não a substitui. E quando é aplicado muito nitrogênio associado a esses microrganismos, a atuação deles é prejudicada, como uma espécie de overdose”, compara Galindo. “É um balanço em que existe uma faixa ideal para a resposta da planta aos nutrientes e à coinoculação das bactérias”. Os resultados indicaram que a taxa ótima de aplicação de nitrogênio poderia ser reduzida dos convencionais 240 kg N/ha para 175 kg N/ha, reduzindo custos e ainda aumentando a produtividade do milho em 5,2%. Além disso, a fórmula reduziria a emissão de dióxido de carbono em 682,5 kg CO2e/ha.
Segundo o pesquisador do câmpus de Dracena, a redução de aproximadamente 25% na adubação nitrogenada na cultura do milho traria uma economia para o produtor de aproximadamente R$ 130 por hectare. “Se nós extrapolarmos estes valores para um modelo hipotético considerando toda a área cultivada com milho no Brasil, que atualmente está em torno de 22 milhões de hectares, nós estamos falando de uma economia de cerca de R$ 2,86 bilhões anuais”, projeta o docente. “Isso é o visível, aquilo que conseguimos mensurar. Existem ainda questões ambientais e climáticas que nós ainda não conseguimos mensurar tão bem, mas que precisam ser levadas em consideração”.
Leia a reportagem completa no Jornal da Unesp.
Foto de capa: Fernando Galindo
Fonte: Assessoria de Imprensa Unesp
Sustentabilidade
Realização de lucros e Crop Tour positivo pressionam trigo em Chicago, que fecha em baixa – MAIS SOJA

A Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT) para o trigo encerrou a sessão com preços mais baixos. O mercado foi pressionado por um movimento de realização de lucros frente aos ganhos registrados no pregão anterior. As cotações recuaram ainda mais diante das projeções de bons rendimentos nas lavouras de primavera na Dakota do Norte.
No primeiro dia do tour anual de avaliação, técnicos indicaram produtividades acima da média na região Sul do principal estado produtor, impulsionadas pelas chuvas abundantes durante o verão. Ainda assim, os resultados ficaram abaixo do recorde registrado no ano passado.
Os contratos com entrega em setembro fecharam cotados a US$ 5,40 1/2 por bushels, baixa de 9,00 centavos de dólar, ou 1,63%, em relação ao fechamento anterior. Os contratos com entrega em dezembro encerraram a US$ 5,61 1/4 por bushel, recuo de 8,25 centavos de dólar, ou 1,44%, em relação ao fechamento anterior.
Fonte: Ritiele Rodrigues – Safras News
- Politica21 horas ago
Policiais com melhores índices de redução de crime poderão receber ‘remuneração extra’ em MT
- Politica22 horas ago
Justiça condena ex-deputado por ceder cartão de combustível da Assembleia Legislativa para o genro
- Sustentabilidade19 horas ago
Manejo eficaz com biológicos garante impulsionar a produtividade no campo – MAIS SOJA
- Business24 horas ago
Produtores de mel convivem com abandono de abelhas e contêineres parados em portos
- Sustentabilidade6 horas ago
Sustentabilidade da cadeia da soja abre as discussões desta quarta-feira no Congresso Brasileiro de Soja – MAIS SOJA
- Featured5 horas ago
Mercado brasileiro de algodão enfrenta desafios e aposta em inovação genética para manter competitividade
- Featured6 horas ago
Bayer lança tecnologias no Congresso Brasileiro da Soja 2025
- Sustentabilidade21 horas ago
Alta dos fosfatados pressiona mercado internacional de fertilizantes e desafia compradores na safra 2025/2026 – MAIS SOJA