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produtores familiares quadruplicam produtividade de robustas amazônicos

O cultivo de variedades de café clonal conhecidas como robustas amazônicos, associado a outras tecnologias recomendadas pela Embrapa, tem possibilitado lavouras mais produtivas e grãos de qualidade em propriedades rurais familiares da Amazônia.
Produtores do Acre, Rondônia, Amazonas e Roraima têm conseguido quadruplicar a produção, em relação a cultivos seminais, saindo de uma produtividade de 20 a 30 sacas de 60 quilos de café em grãos por hectare para até 120 sacas. Esse resultado garante mais renda e qualidade de vida para as famílias rurais.
Os cafés robustas amazônicos são cultivados há décadas na Amazônia e, nos últimos dez anos, ganharam visibilidade no mercado e a preferência dos cafeicultores da região. A atividade iniciou com agricultores de Rondônia e se expandiu entre produtores de outros estados, que passaram a renovar antigos cafezais seminais e implantaram novos plantios com variedades clonais.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Acre Aureny Lunz, os cafés seminais apresentam alta variabilidade genética, fator que limita a produção e torna a cultura pouco competitiva.
“Já os cafés clonais robustas amazônicos, além de altamente produtivos, proporcionam maturação uniforme, essencial para obtenção de grãos de qualidade, e o uso de variedades precoces ou tardias permite planejar a colheita. Esses materiais genéticos, aliados a tecnologias de manejo, conferem à cafeicultura expressiva capacidade de gerar renda e agregar valor à produção familiar e elevam o potencial de transformação da cultura, ainda mais visível na vida de pequenos produtores”, destaca.
Salto na produtividade
De acordo com Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia, a cafeicultura na Amazônia evoluiu de um modelo quase extrativista para uma produção tecnológica sustentável. A atual média de produção de estados como Acre (45 sacas por hectare) e Rondônia (52 sacas), em nada lembra a produtividade de um passado recente, que raramente superava 10 sacas por hectare.
“Alcançamos avanços significativos na cultura e dispomos de tecnologias que possibilitam aproveitar todo o potencial agronômico dos clones de cafés robustas amazônicos e elevar a produção. Por isso, é comum encontrar propriedades familiares com produtividade de 120 a 150 sacas de café por hectare e algumas lavouras superam 200 sacas”, ressalta o pesquisador.
O agricultor Wanderlei de Lara, morador de Acrelândia, principal polo de produção de café do Acre, plantou os primeiros clones de robustas amazônicos em 2016, depois de conhecer, junto a outros produtores, a experiência de cafeicultores de Nova Brasilândia, em Rondônia. Ele conta que esses cafés possibilitaram um salto na produtividade, resultado da qualidade genética dos materiais clonais e adoção de práticas adequadas de manejo e irrigação das lavouras.
“Saímos de 20 sacas de 60 quilos, com os cafés seminais, para 100 sacas por hectare. Na safra de 2024 produzimos 120 sacas por hectare, comercializadas entre R$ 1.200 e R$ 1.300, cada”, relata o produtor, informando que o retorno econômico na atividade possibilitou modernizar a produção e a infraestrutura da propriedade.
“Hoje, vendemos o nosso café todo torrado e moído, pronto para ser embalado. Minha família tem melhores condições de trabalho e uma vida mais confortável, graças à cafeicultura clonal”, enfatiza Lara, que também investe na produção de café fermentado, produto vendido pelo dobro do preço do café em coco.
Negócio familiar rentável
No Juruá, uma das regionais do Acre, o café é cultivado há mais de duas décadas, mas a produção ganhou força a partir de 2021, com a criação da Cooperativa dos Cafeicultores do Vale do Juruá (Coopercafé), iniciativa que reúne 92 produtores familiares e incentiva o uso de clones robustas amazônicos em pequenas propriedades.
Na propriedade do agricultor Romualdo da Silva, em Mâncio Lima (AC), a produção chama a atenção pelo vigor do cafezal e os resultados alcançados possibilitaram a criação do café Vô Raimundo, já disponível em mercados locais.
“Somente com o uso de clones adequados, manejo nutricional baseado nas necessidades das plantas e um sistema de irrigação eficiente, a cultura evoluiu. Produzimos 120 sacas de grãos em uma área de 1,2 hectares, um desempenho produtivo excelente. Com o apoio da cooperativa, adequamos a propriedade para um processo de produção que vai do campo à xícara e transformamos a atividade em um negócio familiar rentável. Ver o nosso café nas prateleiras de supermercados é a realização de um sonho”, declara o agricultor.
Para a agrônoma da Secretaria de Agricultura do Acre (Seagri), Michelma Lima, a cafeicultura é uma atividade em expansão na Amazônia, processo fruto de investimentos em tecnologias.
“No Acre, o aumento da área cultivada e da eficiência produtiva na cafeicultura é prioridade do programa de fortalecimento da produção agrícola do estado. Além de excelentes ganhos no rendimento dos cafezais, o acesso dos produtores a clones adaptados à região e à assistência técnica continuada reduz custos na produção”, avalia.

Cafeicultura gera turismo rural sustentável
Outro exemplo de como a cafeicultura tem ajudado a transformar a produção familiar e a vida no campo é a família Bento, de Cacoal (RO), que mantém uma produtividade de 100 sacas de café por hectare, desempenho que gera renda para cinco famílias no Sítio Rio Limão.
O trabalho compartilhado e os investimentos em tecnologias de cultivo e para melhoria da qualidade dos grãos tornaram a propriedade uma referência em cafés robustas amazônicos de excelência e em turismo rural sustentável na Amazônia.
O produtor Ronaldo Bento afirma que a colheita no tempo certo e os processos de secagem e fermentação bem orientados, além de procedimentos adequados no armazenamento, transformaram o perfil sensorial dos grãos, resultando em um café especial, premiado em concursos estaduais e nacionais. A qualidade e notoriedade do produto chamou a atenção de turistas e, nos últimos cinco anos, a propriedade já recebeu visitantes de mais de 20 países.
“Atendemos cerca de dois mil turistas por mês, que buscam conhecer as lavouras e o processo produtivo e degustam um típico café colonial. Vendemos uma média de 200 quilos de café por semana, somente na propriedade. Cada embalagem com 500 gramas de café comum ou 250 gramas de café gourmet custa 25 reais. Além disso, nosso café abastece mercados locais e de outros estados. Produzir café está no nosso sangue. Não imagino minha família em outra atividade”, enfatiza Bento.
Café indígena
Os cafés robustas amazônicos também são cultivados em diferentes terras indígenas e se destacam como vitrine da sociobioeconomia amazônica. Em Rondônia, o “Projeto Tribos”, iniciativa do Grupo 3 Corações, apoiada pela Embrapa, implementa um modelo de produção sustentável que gera renda para cerca de 150 famílias, de oito etnias que habitam as terras indígenas Sete de Setembro e Rio Branco.
“O trabalho se baseia na transferência de tecnologias que preconizam a preservação das florestas, o protagonismo indígena e a qualidade da produção. Entre os resultados alcançados está um café especial, produzido por uma família Suruí, avaliado com nota 100, máxima pontuação atribuída a cafés robustas em premiações, no mundo”, explica o pesquisador Enrique Alves.
Em Roraima, a produção de robustas amazônicos envolve agricultores de diferentes municípios, incluindo indígenas da comunidade Kauwê, na Terra indígena Raposa Serra do Sol, localizada em Pacaraima, onde os primeiros cafezais foram implantados em 2020, com apoio da Embrapa.
Idauto Pedrosa Lima cultiva 10 variedades desses cafés, com a participação de toda a família, e o rigor na atividade, especialmente na colheita, seleção e torra dos grãos, resultou em um café indígena com qualidade aprovada por consumidores de diversas partes do mundo.
“Testamos a bebida com a comunidade e a aceitação foi muito positiva. A partir desse resultado, buscamos um nome e uma identidade visual que refletissem a sua origem e batizamos o produto de Café Uyonpa (‘café família’ na língua Macuxi). A produção é vendida para turistas que visitam a Terra Indígena e pela internet e gera uma renda média mensal de R$ 4 mil. Queremos expandir o cultivo e aprimorar ainda mais a produção porque acreditamos que com a cafeicultura podemos melhorar a vida da família e garantir um futuro próspero para filhos e netos”, declara o agricultor.
O analista da Embrapa Roraima, Lourenço Cruz, que acompanha as atividades na Terra Indígena, considera o apoio às famílias indígenas essencial para viabilizar uma atividade econômica sustentável. “Os produtores são comprometidos com a produção de café de qualidade e já estão gerando renda para suas famílias. O projeto tem potencial para ser replicado em outras comunidades indígenas de Roraima”, afirma.
Aproveitamento de áreas degradadas
Segundo o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) Edson Barcelos, o cultivo de cafés clonais no Amazonas começou há pouco mais de uma década e tem se tornado uma alternativa para o aproveitamento e conversão de áreas alteradas em espaços produtivos.
“A cafeicultura é uma importante atividade econômica para dez municípios amazonenses; a maioria dos cultivos tem até dois hectares e predominam clones Robustas Amazônicos”, destaca.
No município de Silves (AM), a atividade teve início, a partir de 2015, com Unidades de Referência Tecnológica (URTs) implantadas com apoio da Embrapa, na área da Associação Solidariedade Amazonas (ASA), na estrada da Várzea.
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A família Lins, uma das primeiras a aderir à parceria, passou a colher dez vezes o que produzia com o café seminal. Além de boa produtividade e qualidade diferenciada, a atividade, realizada somente em áreas de capoeira, permite conservar a floresta em pé.
Conciliar produção de qualidade e conservação ambiental rendeu à família o prêmio Florada Premiada, na categoria Campeãs Regionais Canéfora, em 2024. Para a matriarca Maria Karimel Lins (a dona Vanda), a conquista é resultado do conhecimento adquirido em capacitações sobre diferentes aspectos da cafeicultura.
“Melhoramos procedimentos de colheita, pós-colheita e os cuidados para manutenção da qualidade dos grãos”, relata a produtora, que acredita que a premiação pode inspirar outros agricultores a valorizar a qualidade e o meio ambiente na produção de café.
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Governo lança Programa Solo Vivo para restaurar solos e apoiar agricultura familiar

O governo federal lançou neste sábado (24), em Campo Verde (MT), o Programa Solo Vivo. A iniciativa busca recuperar áreas de solo degradado, aumentar a produtividade e reduzir desigualdades na produção rural, com foco na agricultura familiar.
A cerimônia aconteceu no assentamento Santo Antônio da Fartura, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em seu discurso, ele destacou a importância de garantir acesso igualitário a insumos e tecnologia para pequenos produtores. O presidente também defendeu a valorização da produção voltada para o consumo familiar como forma de garantir segurança alimentar e justiça social no campo.
Na primeira etapa, o Solo Vivo contará com um investimento de R$ 42,8 milhões, beneficiando entre 800 e 1.000 famílias de dez assentamentos em diferentes regiões do estado. Os agricultores receberão suporte técnico para restaurar a fertilidade do solo, aumentar a produção, gerar renda e manter-se de forma sustentável no campo.
O evento também marcou a entrega de máquinas agrícolas pelo Programa Estratégico de Fortalecimento Estrutural de Assentamentos Rurais, uma parceria entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A ação contempla 38 municípios mato-grossenses.
Além disso, 78 títulos de domínio foram entregues a famílias dos assentamentos Santo Antônio da Fartura, em Campo Verde, e Salete Strozac, em Guiratinga. As propriedades tituladas totalizam 1.764,86 hectares, com investimento superior a R$ 397 mil. A titulação garante segurança jurídica e representa um passo importante para o desenvolvimento rural no estado.
Durante o evento, o ministro Carlos Fávaro destacou o avanço na abertura de mercados internacionais para produtos do agronegócio brasileiro. Segundo ele, o Brasil já alcança mais de 1,1 bilhão de toneladas produzidas nesta safra, com 374 novos mercados abertos para exportação.
As ações do Programa Solo Vivo são realizadas em parceria com a Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Mato Grosso (Fetagri-MT) e o Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).
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Fávaro: Proposta de licenciamento ambiental avança sem precarização

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse nesta sexta-feira (23) que o projeto da Lei Geral do Licenciamento Ambiental “avança sem precarização”. O chefe da Agricultura disse ainda respeitar o posicionamento contrário da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmando que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é plural.
“Eu respeito o posicionamento dela, talvez ela fazendo uma análise mais profunda do texto pode haver divergências. O governo é plural. As áreas podem ter, em algum momento, conflito de ideias e de pensamentos. Mas eu, particularmente, acho que é um projeto que avança muito sem precarização”, afirmou Fávaro.
Segundo Fávaro, o projeto de licenciamento ambiental pode dar uma grande capacidade para o governo licenciar obras de infraestrutura e garantir “crescimento sustentável”.
“É impossível a gente crescer de forma sustentável sem que a infraestrutura acompanhe e puxe na frente. A gente precisa de mais portos, mais aeroportos, mais ferrovias e mais energia elétrica”, afirmou Fávaro.
Contra a vontade de ambientalistas, o projeto de lei foi aprovado no Senado nesta quarta-feira (21) por 54 votos favoráveis a 13 contrários. A proposta estabelece regras nacionais para os processos de licenciamento, com definição de prazos, procedimentos simplificados para atividades de menor impacto e a consolidação de normas atualmente dispersas.
O texto vai voltar para a Câmara dos Deputados, precisando ser chancelado para então ir à sanção presidencial.
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Acordo entre Brasil e Angola prevê 500 mil ha para produção agrícola

Durante reunião no Palácio Itamaraty nesta sexta-feira (23), em Brasília, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e João Lourenço, de Angola, discutiram os próximos passos do Programa de Investimento Produtivo Agropecuário Brasil-Angola. O encontro contou com a presença dos ministros da Agricultura dos dois países, Carlos Fávaro e Isaac dos Anjos, além de representantes do setor produtivo.
A iniciativa prevê a cooperação entre produtores rurais brasileiros e angolanos para estimular a produção de alimentos, criar empregos e promover o desenvolvimento social no território angolano. Segundo Fávaro, o programa resulta de articulações iniciadas desde o início do atual mandato de Lula, com foco no combate à fome no continente africano.
Missões técnicas realizadas em Angola ao longo dos últimos meses permitiram que empresários brasileiros conhecessem de perto as condições para produção no país. A partir das visitas, foi elaborado um documento com propostas e condições para viabilizar os investimentos brasileiros.
“Percorremos várias regiões, fizemos reuniões com autoridades e, ao final, construímos um documento simples, direto e objetivo. Nele constam sugestões e condições para que esses produtores brasileiros possam, de fato, começar a produzir em Angola”, disse Fávaro.
O plano inclui proposta de concessão de até 500 mil hectares de terras agricultáveis, com cessões de até 60 anos, renováveis, e definição de áreas contínuas para facilitar a instalação de infraestrutura. “Isso é fundamental. Assim como fizemos no Brasil, quando desbravamos o Cerrado, é preciso ter escala, ter continuidade de áreas para viabilizar os investimentos”, afirmou o ministro brasileiro.
Também estão previstos ajustes na legislação angolana sobre proteção de cultivares, sementes transgênicas e propriedade intelectual.
Outro ponto central da proposta é a criação de um fundo de aval com recursos do fundo soberano de Angola. A medida pode garantir até 75% dos investimentos feitos por produtores brasileiros no país africano.
O programa contempla ainda ações sociais, como a construção de agrovilas com moradias, escolas, postos de saúde e centros técnicos. Também haverá intercâmbio de profissionais para capacitação técnica em ambos os países. Comunidades vizinhas às áreas de produção receberão maquinário, insumos e assistência técnica.
Lula e Lourenço orientaram suas equipes a avançar na redação de um memorando de entendimento para formalizar a parceria. De acordo com Fávaro, o acordo representa um passo estratégico para consolidar o Brasil como referência global em agricultura tropical sustentável, com potencial para fortalecer a segurança alimentar e a inclusão social no continente africano.
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