A mecanização do processo de colheita da cana-de-açúcar trouxa mais agilidade no campo, mas uma questão para as indústrias. A cana picada, e não retirada por inteiro como é o caso da colheita manual, apresenta uma janela menor, obrigando um processamento em até oito horas, idealmente.
“Estocar a cana picada acarreta problemas de perda por transpiração do material e de ampliação dos pontos de entrada de microrganismos. Assim, o processamento tem de ser mais rápido, quase imediato. Entretanto, muitas vezes, as usinas não conseguem processar tudo de maneira imediata e são obrigadas a estocar por mais tempo. Muitas estocam a céu aberto, em carretas, numa prática conhecida como ‘estoque sobre rodas’. O caminhão chega do campo, desatrela a carreta cheia e leva de volta para o campo uma carreta vazia. A cana vai ficar ali esperando o processamento”, afirma o agrônomo Leonardo Lucas Madaleno, professor do curso de Biocombustíveis da Fatec Nilo De Stéfani, em Jaboticabal. Ele é o primeiro autor de um artigo publicado no International Journal of Agronomy sobre o tema, que ainda hoje segue pouco estudado.
“Em 2015, quando fizemos o experimento de campo, havia trabalhos com a cana inteira. Não encontramos trabalhos falando de como se comporta a cana picada armazenada mais de 24 horas e, ainda hoje, em 2025, não encontramos. Há pouca coisa sobre o tema porque a pesquisa demanda muito tempo e estudo prático com a usina e os produtores”, afirma Madaleno.
De acordo com ele, a demora de mais de 24 horas no processamento da cana não e comum. Ainda assim este problema pode mas pode vir a ocorrer nas estações chuvosas, quando as usinas colhem tudo o que podem , gerando grandes volumes.
No estudo, os pesquisadores simularam o “estoque sobre rodas” com a ajuda de funcionários da usina utilizando caixas plásticas perfuradas. Durante a segunda período da safra 2015/16 o estudo passou a monitorar a perda de peso da cana.
“No primeiro ano, uma amostra foi processada a cada seis horas. Na safra seguinte, os intervalos para processamento foram de 12 horas. Determinamos o peso comparando os demais tempos de armazenamento com o tempo zero, que é o momento da chegada da cana ao estoque, logo após a colheita. Em seguida, processamos colmos para extração do caldo, análise de qualidade e separação para produção de xarope, que é o produto intermediário do açúcar, e do vinho, que é o intermediário do etanol”, resume Madaleno.
As caixas ficaram na usina nas mesmas condições em que ficam as carretas. “Começávamos com o armazenamento às 8 horas da manhã. Após seis horas, já pesávamos outra caixa, analisávamos e congelávamos o material para levar para a Fatec. Depois de 12 horas, repetíamos. O ‘pulo do gato’ foi fazer a extração, analisar o caldo no laboratório da própria usina e congelar o material para trazer para Jaboticabal, porque não havia possibilidade de fazer todo o processamento na usina. Para cada período, fizemos quatro repetições. Quatro vezes com zero, seis, 12 e assim por diante”, detalha o agrônomo.
Assim, os cientistas levaram o material congelado para a Fatec para analisarem todos os resultados de uma única vez, e checarem se o congelamento havia interferido no estudo. Dessa forma, constataram que as amostras demonstravam redução na pureza, mas com baixo coeficiente.
Prosseguiram, então, com o processamento: no caso do açúcar, por meio da extração e tratamento do caldo, seguidos de sua concentração em um evaporador para transformação em xarope. No caso do etanol, realizando a fermentação desse caldo e transformando-o em vinho.
Os resultados atingidos com os estudos mostraram que, para o açúcar, o processamento em até 24 horas da cana não apresenta alteração na qualidade do xarope. Ainda assim apresenta perda de quase 10% da massa. Dessa forma, o produtor não perde em qualidade, mas perde em volume de produto.
Para o etanol, até 48 horas não houve alteração significativa no vinho. Mas por conta do uso de uma levedura muito adaptável e pouco específica para o estudo, os pesquisadores apontam a necessidade novos testes.
“Temos de fazer experimentos com outras cepas para verificar se realmente o atraso no processamento não tem efeito negativo no etanol. Além disso, dentro da usina há uma outra nuance: quando se faz fermentação, a levedura do vinho é separada e reaproveitada em outros processos. Talvez, em estudos futuros, tenhamos de fazer reciclos de fermentação. Sem contar que as leveduras usadas pelas usinas, e reutilizadas várias vezes, às vezes são adaptadas a cada usina.” Afirmou, Leonardo.
Um dos problemas do impacto do armazenamento no produto final, no caso do açúcar, é que o caldo pode conter moléculas que o tornam mais escuro. “No processo de clarificação do açúcar se utiliza leite de cal. Quando a cana demora demais a ser processada, é preciso aumentar a quantidade de leite de cal adicionada para atingir o pH adequado para tratamento. Mas o aumento do uso deixa um resíduo, as cinzas, que vão parar no açúcar.”
Segundo o cientista, no processo de produção do açúcar observa-se uma perda mais acelerada, por conta de transformações que vão acontecendo no material ao longo do tempo como, por exemplo, a quebra da sacarose em frutose e glicose. “A partir das 24 horas intensifica-se a quebra da sacarose, o que tem como consequência a redução de qualidade do produto final.”
Já os problemas do etanol estão relacionados à redução de sua produção e aumento da geração de moléculas secundárias. “Quando se vai fazer a destilação, é mais trabalhoso separar o etanol dessas outras moléculas.”
Os cientistas também descobriram que, o armazenamento realizado no início ou final da safra, quando chove muito, eleva a ocorrência de impurezas. No meio da safra, o nível de impurezas é mais baixo.
“Além de monitorar todo o processamento pela indústria, também monitoramos todos os dados de precipitação e chuva, e por isso devemos um agradecimento ao Inmet. Quando chove e o material está armazenado, é como se a chuva lavasse e tirasse toda a sacarose da cana. A redução de sacarose já acontece ali. O correto seria armazenar em local fechado, um galpão, mas é tanto volume de material que seria quase impossível controlar as condições desse armazém. Então, quando vai chover, as usinas correm para colher a cana, para ter material suficiente para não parar durante o período de chuva. Só que o material fica lá esperando e perde massa e sacarose. Talvez as usinas devessem aproveitar essa chuva justamente para parar e fazer manutenção dos equipamentos.”
*Sob supervisão de Hildeberto Jr.
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