A colheita da segunda safra de milho em Mato Grosso caminha para o fim com resultados expressivos. Segundo Cleiton Gauer, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), mais de 95% da área já foi colhida, e a produção deve alcançar quase 55 milhões de toneladas. “Foi um ano excepcional. Assim como a safra de soja, o milho também bateu recorde”, destaca.
No entanto, a boa notícia de mais um recorde de produção para o cereal vem acompanhada de um problema antigo: a incapacidade de armazenagem.
“Esse é um desafio crônico. Se não me falha a memória, o último ano em que Mato Grosso conseguiu armazenar toda a sua safra foi em 2010 ou 2011”, afirma Gauer ao programa Direto ao Ponto desta semana. Desde então, a infraestrutura de estocagem não acompanhou o ritmo acelerado da produção.
A realidade, conforme ele, é dura: se Mato Grosso tivesse que segurar toda a sua produção, que hoje está em torno de 108 milhões de toneladas, não teria capacidade estática para guardar, uma vez que ela hoje é de um pouco mais de 50 milhões de toneladas.
“Hoje o déficit é calculado em torno de 56 milhões de toneladas. Eu sempre brinco, que a capacidade de infraestrutura, ela não é capaz de suportar o produtor mato-grossense”.
A consequência dessa defasagem é visível a cada nova supersafra: milho estocado em silos bolsa ou, em muitos casos, diretamente no chão. “O produtor conta com o clima e com a velocidade do escoamento para evitar perdas. Mas essa limitação compromete a qualidade, gera perdas de volume e até problemas como grãos ardidos”.
Gauer, que também é superintendente do Sistema Famato, explica que o problema se agrava pela dinâmica das duas safras no estado. A soja, colhida no primeiro semestre, ocupa os armazéns até o momento em que o milho começa a ser retirado do campo. Com atrasos na colheita ou na logística de escoamento, como observado nesta safra 2024/25, o milho simplesmente não tem onde entrar.
Com uma superprodução, os preços caíram diante da alta oferta. “O produtor foi forçado a comercializar em momentos inoportunos, pela necessidade de fazer caixa”, comenta. Ele aponta que mais de 50% da produção já havia sido vendida antes da colheita, abaixo da média dos últimos cinco anos. A esperança é que o mercado se recupere nos próximos meses.
Nesse cenário, o etanol de milho tem sido um fator importante de sustentação dos preços. “Se não existisse o mercado de etanol, nós não teríamos condições de alcançar esses números de safra. E sofreríamos muito mais com a queda dos preços”, avalia. Ao programa do Canal Rural Mato Grosso, Gauer lembra que desde a entrada das usinas no estado, a partir de 2017, os preços se mantêm acima de R$ 40 por saca, mesmo em momentos de maior pressão no mercado.
Além dos desafios logísticos, o setor agropecuário mato-grossense acompanha com preocupação os impactos do chamado “tarifaço” anunciado pelos Estados Unidos. De acordo com o superintendente do Imea, a carne bovina — um dos principais produtos exportados pelo estado — não foi incluída na lista de exclusão de tarifas, o que pode afetar diretamente os pecuaristas e, indiretamente, o mercado de grãos.
“A carne que Mato Grosso exporta para os Estados Unidos é específica, usada para produção de hambúrgueres. Com a incerteza do mercado, muitos produtores podem repensar os investimentos em confinamento”, explica. A menor demanda por gado confinado impactaria a venda de milho e soja, usados na ração animal.
“Esse movimento coloca em cheque a expectativa de intensificação da pecuária neste segundo semestre”, alerta Gauer, que ainda destaca a queda na arroba desde o anúncio da taxação.
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