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Dessecação pré-semeadura: Fundamentos e benefícios no manejo de plantas daninhas – MAIS SOJA


O manejo e controle de plantas daninhas em culturas agrícolas é fundamental para o sucesso produtivo da lavoura. Plantas daninhas matocompetem com culturas agrícolas por recursos como radiação solar, água e nutrientes do solo, além de servirem como ponte verde para a sobrevivência de pragas e doenças. Dependendo da espécies de planta daninha, densidade populacional e período em que convive com a cultura agrícola, perdas de produtividade superiores a 91% podem ser observadas, como é o caso do caruru-gigante (Amaranthus palmeri) na cultura do milho. Essa mesma espécie de planta daninha, pode causar perdas de produtividade superiores a 79% em soja e 77% em algodão (Gazziero & Silva, 2017).

Figura 1. Matocompetição de caruru com a soja.

Considerando o impacto das planta daninhas nas culturas agrícolas, o controle efetivo delas é fundamental para assegurar o potencial produtivo da lavoura. Dentre os métodos de controle de planta daninhas, o controle químico com é o método mais empregado em escala comercial. Nesse contexto, visando reduzir o impacto das planta daninhas nas culturas produtoras de grãos, uma das principais e mais importantes estratégias de manejo é a dessecação pré-semeadura.

O que é a dessecação pré-semeadura?

A dessecação pré-semeadura, também chamada de dessecação antecipada, consiste na aplicação de herbicidas específicos para o controle de plantas daninhas antes da semeadura da cultura principal. Essa prática também pode ser empregada para o manejo de culturas de cobertura, com o objetivo de criar condições adequadas para a implantação da cultura sucessora.

Benefícios da dessecação pré-semeadura

Dentre os principais benefícios da dessecação pré-semeadura de culturas agrícolas, especialmente aquelas inseridas no sistema plantio direto, podemos destacar a melhoria da condição de palhada para a prática da semeadura (eliminação da biomassa verde), o controle das planta daninhas emergidas anteriormente a semeadura e consequentemente a redução da matocompetição inicial com a cultura comercial (estabelecimento do limpo), e a redução da pressão de controle sobre as pulverizações pós-semeadura, não deixado todo o controle apenas para as aplicações na capina (controle pós-emergente em V3-V4).

Além disso, a dessecação pré-semeadura possibilitam uma melhor uniformidade de emergência das plantas, uma vez que reduzindo as plantas hospedeiras (plantas daninhas), pode-se ter a redução de pragas e patógenos que acometem as culturas no início do desenvolvimento, contribuindo para o melhor estabelecimento da cultura no campo.

Cuidados com a dessecação pré-semeadura

Para um controle eficaz das plantas daninhas na dessecação pré-semeadura, é fundamental identificar as espécies presentes na área de produção e as características dessas espécies e do sistema de produção, a fim de posicionar adequadamente os herbicidas na pré-semeadura. Durante muito tempo, em função das suas características físico-químicas, facilidade de manipulação, bom custo benefícios e amplo espectro de ação, o glifosato foi um dos herbicidas mais utilizados para a dessecação pré e pós-semeadura da soja.

Contudo, a elevada pressão de seleção sobre esse herbicida resultou em diversos casos de resistência de plantas daninhas ao herbicida, em diferentes regiões no mundo, fazendo com que plantas comuns como buva (Conyza spp.), caruru (Amaranthus), capim-amargoso (Digitaria insularis), apresentassem resistência ao glifosato. Essas espécies daninha possuem elevada habilidade competitiva, rápido crescimento e desenvolvimento, e elevada produção de sementes, fatores que associados, tornam essa planta daninhas difíceis de ser controladas e com elevada capacidade em causar danos às culturas agrícolas.

Figura 2. Distribuição Global de espécies de plantas daninhas com resistência ao glifosato.
Adaptado: Heap (2024)

A resistência das plantas daninhas ao glifosato resultou em diversas falhas de controle na pré e pós-semeadura de culturas RR, dificultando ainda mais o controle efetivo dessas plantas daninhas (figura 3). Nesse sentido, a identificação das espécies presentes na lavoura antes da semeadura, bem como a sensibilidade dessas espécies aos herbicidas é fundamental para embasar o posicionamento dos herbicidas, devendo-se dar  preferencia por mecanismos de ação e princípios ativos mais eficientes no controle das plantas daninhas.

Figura 3. Plantas de buva remanescentes da dessecação pré-semeadura.

O controle eficaz das plantas daninhas na pré-semeadura é fundamental para garantir o bom desenvolvimento inicial da lavoura, livre da competição com plantas daninhas. Embora varie em função da cultura e espécies de plantas daninhas, estima-se que, para a cultura da soja, o período anterior a interferência (período em que as plantas daninhas e cultivadas podem conviver em conjunto, sem que haja redução da produtividade), não seja superior a 26 dias (Franceschetti et al., 2018). Nesse sentido, o controle efetivo na pré-semeadura é determinante para o bom estabelecimento da soja.

Em casos mais complexos, em que elevadas populações de plantas daninhas e/ou populações em avançado estádio de desenvolvimento estejam presentes, aplicações sequenciais de herbicidas podem ser necessárias na pré-semeadura para controlar eficientemente essas plantas daninhas. Dependendo das espécies de plantas daninhas, distintos herbicidas podem ser empregados no controle pré-semeadura, conduto, dependendo da molécula e princípio ativo, deve-se levar em consideração o efeito residual do herbicida.



No geral, recomenda-se um período de 15 a 20 dias de intervalo entre a dessecação pré-semeadura e a semeadura da soja, devendo-se observar a condição da lavoura, para que haja a certificação da efetividade de funcionamento dos produtos (Embrapa, 2021). Contudo, dependendo do herbicida utilizado, esse intervalo pode ser maior para evitar efeitos fitotóxicos à cultura (figura 4).

Figura 4. Intervalo entre aplicação de herbicidas e semeadura das culturas agrícolas.

Em situações em que há a presença de populações de pragas, em especial lagartas que acometem as plantas no início do desenvolvimento, inseticidas podem ser associados aos herbicidas na dessecação pré-semeadura, desde que haja compatibilidade entre os produtos, otimizando assim a operação. Em suma, a dessecação pré-semeadura é uma prática de manejo indispensável para o estabelecimento da lavoura, especialmente se tratando do sistema plantio direto, e possibilita controle das plantas daninhas, para o estabelecimento da lavoura no limpo, livre da matocompetição.

Referências:

EMBRAPA. SISTEMA PLANTIO DIRETO: SUBSISTEMA SOJA. EMBRAPA, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/sistema-plantio-direto/agrossistemas/sistema-santanna/producao/subsistema-soja?_ga=2.115430470.199159665.1749814102-1073496040.1749814102 >, acesso em: 13/06/2025.

FRANCESCHETTI, M. B. et al. PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA SOJA. Anais da VIII Jornada de Iniciação Cientifica e Tecnológica – VIII JIC, 2018. Disponível em: < https://portaleventos.uffs.edu.br/index.php/JORNADA/article/view/8650 >, acesso em: 15/12/2020.

GAZZIERO, D. L. P.; SILVA, A. F. CARACTERIZAÇÃO E MANEJO DE Amaranthus palmeri. Embrapa, Documentos, n. 384, 2017. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1069527/1/Doc384OL.pdf >, acesso em: 13/06/2025.

HEAP, I.  THE INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE, 2023. Disponível em: < https://weedscience.org/Pages/crop.aspx >, acesso em: 23/10/2024.

agro.mt

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