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Análise Cepea: Preços da soja subiram nos mercados nacional e externo em abril, impulsionados pela aquecida demanda global – MAIS SOJA

Os preços da soja subiram nos mercados nacional e externo em abril, impulsionados pela aquecida demanda global. Além disso, a expectativa de maior interesse da China pela oleaginosa brasileira também reforçou o movimento de alta, à medida que esse cenário afastou uma parte dos sojicultores das negociações envolvendo grandes volumes – esses vendedores passaram a ficar à espera de novas altas de preços nos próximos meses. No entanto, os menores patamares dos prêmios de exportação e a significativa oscilação cambial impediram que a liquidez fosse maior no mercado spot nacional.
Além disso, no dia 9 de abril, o governo dos Estados Unidos suspendeu as tarifas recíprocas de vários países (incluindo o Brasil) por 90 dias, com exceção da China. Por um lado, esse cenário trouxe certo alívio ao mercado e movimentou as transações internacionais, mas, por outro, acirrou a guerra comercial com a China, que, por sua vez, deve buscar intensificar as importações de outros países, como o Brasil.
No dia 10 de abril, os Estados Unidos aumentaram a tarifa de importação de produtos chineses para 145% e, no dia seguinte, a China retaliou e anunciou tarifa de 125% sobre as importações norte-americanas. Ressalta-se, porém, que as negociações brasileiras com a China e os embarques efetivos levam algum tempo para se concretizarem.
A China é o principal destino da soja brasileira. O país asiático absorve mais de 70% dos embarques nacionais da oleaginosa desde 2011. Vale lembrar que, de 2017 a 2019, as vendas brasileiras para a China representaram mais de 80% do total, e este foi justamente o período do primeiro mandato do presidente Donald Trump nos Estados Unidos e do início da guerra comercial entre o país norte-americano e a China.
Quanto aos preços, comparando-se as médias de março e de abril, o Indicador CEPEA/ESALQ – Paraná avançou 1,5%, a R$ 129,83/saca de 60 kg no último mês. Entretanto, em um ano, observa-se queda, de 3,3%, em termos reais (IGP-DI, março/25). O Indicador ESALQBM&FBovespa – Paranaguá registrou alta de 0,9% de março para abril, com média de R$ 134,68/sc de 60 kg. De abril/24 para abril/25, por outro lado, houve baixa, de 2,9%, em termos reais.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, entre março e abril, os preços cederam ligeiro 0,1% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e avançaram 1,1% no de lotes (negociações entre empresas). No comparativo anual, foram observadas altas, de respectivos 6,3% e 5,6%.
O movimento de avanço nos preços em abril, no entanto, foi limitado pela maior oferta da safra 2024/25 na América do Sul. No Brasil, a colheita já havia alcançado 97,7% da área até 3 de maio, de acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), confirmando safra nacional recorde. Na Argentina, a produtividade das áreas recém-colhidas também apresenta melhora frente às áreas precoces, com 23,6% do total colhido até 29 de abril, conforme dados da Bolsa de Cereales.
Outro aspecto de influência sobre as transações globais de soja e derivados deve ser a alteração na política cambial da Argentina. O governo do país vizinho fez mudanças no chamado ‘cepo’ cambial e liberou a cotação do peso, antes fixada, e a moeda pode flutuar na faixa entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar. Há expectativa de que esse processo possa incentivar os agricultores e as indústrias nas comercializações da soja e de seus derivados, o que, por sua vez, limitaria as vendas brasileiras.
DERIVADOS – As negociações de farelo e de óleo de soja estiveram lentas no mercado brasileiro em abril. Para o farelo, as cotações oscilaram entre as praças. Parte dos compradores sinalizou estar abastecida, enquanto demandantes ativos adquiriram volumes pequenos. Na média das regiões brasileiras acompanhadas pelo Cepea, o farelo se desvalorizou 2,1% entre março e abril. No comparativo anual, a queda foi de 12,8%, em termos reais
Quanto ao óleo de soja, a demanda por indústrias de biodiesel esteve baixa no mercado nacional, mas os maiores consumos das indústrias alimentícias e do setor externo compensaram a menor demanda do setor de biocombustíveis. Vale lembrar que a mistura obrigatória do biodiesel ao óleo diesel permanece em 14%.
O preço do óleo de soja, posto na região de São Paulo, com 12% de ICMS, foi de R$ 6.715,65/t em abril, praticamente estável frente a março, mas 19% acima do de abril/24, em termos reais
Confira o Agromensal da Soja de Abril/2025/Análise Conjuntural Cepea completo, clicando aqui!
Fonte: Cepea
Autor:AGROMENSAIS ABRIL/2025
Site: Cepea
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Soja/RS: Com avanço significativo, colheita atinge 95% no Estado – MAIS SOJA

O predomínio de tempo seco, aliado a longos períodos de insolação, contribuiu para o avanço significativo da colheita, que atinge 95% no Estado. Em parte dos municípios, especialmente no Planalto e Alto Uruguai, no Norte e no Nordeste do Estado, a colheita foi encerrada.
A formação intensa de orvalho, nas primeiras horas da manhã, atrasou o início das atividades de campo devido à elevada umidade retida nas hastes, ramos e vagens, o que aumenta o risco de perdas por grãos deteriorados ou danificados durante a operação. A produtividade segue altamente variável, refletindo maior ou menor déficit hídrico ao longo do ciclo. De forma geral, os rendimentos oscilam entre 1.000 e 2.500 kg/ha, com médias inferiores àquelas inicialmente projetadas. As lavouras remanescentes (5%) encontram-se principalmente em estádio de maturação fisiológica (R8), com plantas prontas para colheita.
A ausência prolongada de chuvas — até quatro semanas consecutivas sem precipitações em algumas regiões — tem acelerado a debulha natural dos grãos ainda em campo, intensificando as perdas. Na Região Oeste do Estado, um levantamento da Emater/RSAscar indicou perdas médias de 80 kg/ha de grãos encontrados no solo, antes mesmo da passagem das colhedoras, evidenciando prejuízos econômicos adicionais.
As indenizações do Proagro e Proagro Mais estão sendo pagas com maior agilidade nesta safra, beneficiadas pela flexibilização documental, como a dispensa de apresentação de notas fiscais. Contudo, o acionamento de seguros públicos e privados está restrito a casos de perdas expressivas. A redução na cobertura do Proagro — de 25% a 50%, conforme a janela de plantio estabelecida no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (30% e 40% de risco) — tem dificultado o acesso à compensação para lavouras com produtividade de até 1.200 kg/ha, especialmente entre agricultores do Pronamp e do grupo “Demais Produtores”, que não dispõem de valor garantido de renda mínima.
Os produtores que concluíram a colheita, aguardam a ocorrência de chuvas para a reposição da umidade do solo no intuito de viabilizar a semeadura das culturas de inverno, das plantas de cobertura ou de adubação verde. Paralelamente, realizam práticas de conservação e manejo do solo, como calagem, subsolagem localizada ou em área total, além da construção e manutenção de terraços, visando à melhoria das condições físico-químicas do solo, à infiltração de água e à contenção da erosão hídrica.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, na Fronteira Oeste, a colheita prosseguiu, chegando a 85% em Rosário do Sul e 98% em Manoel Viana, onde permanecem apenas pequenas áreas estabelecidas em segunda safra, após o milho, que apresentam bom desenvolvimento. Esse município registra grande variabilidade nos rendimentos, pois há lavouras totalmente perdidas e outras alcançando até 2.400 kg/ha. Em Itaqui, 89% dos 40 mil hectares semeados foram colhidos, e as produtividades são de 2.100 kg/ha, mesmo em áreas irrigadas. Em São Borja, 90% dos 105 mil hectares cultivados foram colhidos. As expectativas de produtividades nas lavouras tardias não se confirmaram, e as médias ficaram em torno de 900 kg/ha. Porém, há elevado percentual de grãos com avarias. As melhores produtividades foram obtidas em áreas com semeadura mais tardia e cultivares de ciclo longo.
Na Campanha, a quarta semana sem precipitações favoreceu a colheita. Diante do prognóstico de chuvas volumosas, os produtores têm priorizado a colheita das áreas de várzea para evitar o risco de ficarem impossibilitados de acessar essas áreas por longos períodos. Em Dom Pedrito, 80% dos 165 mil hectares cultivados foram colhidos, e as produtividades estão bastante variáveis, conforme a distribuição das chuvas. Os cultivos mais impactados pela estiagem registram médias em torno de 630 kg/ha. Em Hulha Negra, a colheita atinge 85% dos 16 mil hectares, e a produtividade média é de 1.800 kg/ha, representando quebra de 21% em relação à estimativa inicial.
Na de Caxias do Sul, o predomínio de tempo seco beneficiou o avanço da colheita. Na Serra, a operação está tecnicamente encerrada, restando apenas áreas pontuais semeadas tardiamente.
Na de Erechim, 99% da área foi colhida. A produtividade média apresenta redução superior a 30% em relação à produção esperada. A comercialização segue em ritmo lento em função de os produtores considerarem baixos os preços ofertados.
Na de Frederico Westphalen, a área colhida permanece em 98%. Resta 1% em maturação e 1% em enchimento de grãos.
Na de Ijuí, a área colhida continua em 96%, aguardando a finalização do ciclo das lavouras em segundo cultivo, que estão no final do enchimento de grãos e em maturação. Nas áreas de sequeiro, a ausência de chuvas tem comprometido o enchimento de grãos, resultando em redução do potencial produtivo. Já nas lavouras irrigadas, o desempenho está superior ao observado em safras anteriores. Nos cultivos, restam poucos tratos culturais, como aplicações pontuais de fungicidas.
Na de Passo Fundo, a colheita foi tecnicamente encerrada, remanescendo pequenas áreas marginais, que não apresentam expressão estatística.
Na de Pelotas, a colheita avançou significativamente, impulsionada pelo clima seco e estável em toda a região. Contudo, a região possui a menor proporção de área colhida no Estado: 76%. Ainda estão em maturação 24%.
Na de Santa Maria, a colheita ultrapassou 90%. Confirma-se perda média aproximada de 50% na produtividade em relação à estimativa inicial de 3.110 kg/ha.
Na de Santa Rosa, a colheita alcançou 92%. Apenas 1% das lavouras — referentes à safrinha — encontram-se em enchimento de grãos, e 7% em maturação. A produtividade apresenta ampla variação entre municípios, oscilando entre 480 e 2.500 kg/ha, influenciada pela distribuição de chuvas, pela capacidade de infiltração dos solos e pelo nível tecnológico adotado. A colheita da soja safrinha foi iniciada, e os grãos apresentam melhor qualidade e produtividade em relação à semeadura no período preferencial, viabilizando seu uso como semente para a próxima safra.
Na de Soledade, a colheita chega a 99%. Resta 1% de semeadura tardia, implantadas como safrinha sobre restevas de feijão, tabaco e milho, em maturação ou pronto para colheita.
Comercialização (saca de 60 quilos)
O valor médio, de acordo com o levantamento semanal de preços da Emater/RS-Ascar no Estado, reduziu 2,38%, quando comparado à semana anterior, passando de R$ 123,65 para R$ 120,71.
Confira o Informativo Conjuntural n° 1866 completo, clicando aqui!
Fonte: Emater RS
Autor:Informativo Conjuntural 1866
Site: Emater/RS
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Milho/RS: Área colhida atingiu 92%, restam 5% em maturação e 3% em enchimento de grãos – MAIS SOJA

As atividades de colheita do milho seguem em ritmo menos intenso, aguardando a finalização do ciclo das lavouras estabelecidas a partir de dezembro. Os produtores que realizaram a operação foram favorecidos pelas condições meteorológicas predominantemente secas e de elevada radiação solar, que garantiram boa trafegabilidade das máquinas agrícolas. A área colhida alcançou 92%, e restam 5% em maturação e 3% em enchimento de grãos.
A ausência ou insuficiência de chuvas nas últimas quatro semanas tem prejudicado as lavouras em enchimento de grãos (R5), fase altamente sensível ao déficit hídrico, podendo comprometer significativamente o potencial produtivo. No entanto, a menor demanda evaporativa — em função das temperaturas mais amenas — e a presença recorrente de orvalho noturno têm atenuado os efeitos do estresse hídrico, permitindo que as plantas mantenham aspecto visual satisfatório até o momento. No entanto, poderá haver perdas no potencial produtivo, se as plantas continuarem sob estresse hídrico.
Nas regiões em que houve precipitações pontuais e suficientes para restabelecer a umidade superficial do solo, os produtores iniciaram a implantação de culturas de cobertura – para proteção do solo, incremento da matéria orgânica e controle de plantas daninhas – em preparação para a semeadura do milho da próxima safra, prevista para a primeira quinzena de agosto. Porém, na maior parte do Estado, as condições de baixa umidade do solo ainda inviabilizam a semeadura dessas espécies.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, na Campanha, em Candiota, Aceguá, Bagé e Hulha Negra, a colheita está em fase inicial em função das semeaduras terem ocorrido majoritariamente a partir do final de dezembro. Em Caçapava do Sul, aproximadamente 50% dos 1.500 hectares cultivados foram colhidos. O avanço das operações deve se intensificar após a conclusão da colheita da soja, com a adequação das plataformas das colhedoras para o milho. Na Fronteira Oeste, em São Borja, os produtores iniciaram a implantação de mix de espécies ou cultivos solteiros — nabo forrageiro e aveia — visando ao preparo das áreas para o próximo cultivo do cereal.
Na de Caxias do Sul, a colheita prossegue, mas em ritmo mais lento, uma vez que as grandes lavouras já foram colhidas. Em áreas menores, é comum a prática de manter as plantas a campo para permitir a secagem natural dos grãos, o que pode estender a operação até o mês de julho. Os cultivos semeados no final do período indicado — especialmente aquelas implantadas após cultivos de alho e cebola — ainda se encontram em fase de maturação, sem atingirem o ponto ideal de colheita.
Na de Pelotas, 61% das lavouras foram colhidas; 26% estão em maturação fisiológica, aptas para a colheita; 12% em enchimento de grãos; e 1% em pendoamento. Nas áreas ainda em desenvolvimento, persiste significativa heterogeneidade nos estádios fenológicos, resultado das variações na quantidade e distribuição das chuvas ao longo do ciclo
Na de Santa Rosa, 92% dos cultivos foram colhidos; 6% encontram-se em enchimento de grãos; e 2% em maturação fisiológica.
Na de Soledade, 71% das lavouras foram colhidas. As áreas remanescentes estão em florescimento (1%), enchimento de grãos (15%), maturação fisiológica (9%) e maturação de colheita (4%). Esses cultivos foram implantados tardiamente e apresentam bom desempenho produtivo. Nos grãos colhidos recentemente, há alta umidade, exigindo cuidados com a secagem para garantir a qualidade e evitar perdas no armazenamento.
Comercialização (saca de 60 quilos)
O valor médio, de acordo com o levantamento semanal de preços da Emater/RS-Ascar no Estado, reduziu 2,63%, quando comparado à semana anterior, passando de R$ 67,66 para R$ 65,88.
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Fonte: Emater RS
Autor:Informativo Conjuntural 1866
Site: Emater/RS
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Posicionamento Estratégico de Fungicidas na Cultura da Soja – MAIS SOJA

Por Gustavo Luft-PET Agronomia/UFSM
A soja (Glycine max L.) é a cultura de grãos com maior relevância econômica no Brasil, com cerca de 46 milhões de hectares semeados de Norte a Sul do país (CONAB, 2025). O país assume o protagonismo mundial, tanto nas exportações quanto na produção. Segundo o Acompanhamento da Safra Brasileira (CONAB, 2025), projeta-se que 105,54 milhões de toneladas de soja sejam exportadas em 2025, com base no aumento da produção, estimada em 167,37 milhões de toneladas na atual safra, e da demanda mundial, especialmente da China.
Porém, atualmente, a cultura da soja é uma das mais afetadas pela ocorrência de pragas e doenças durante o seu ciclo produtivo, o que torna o manejo mais oneroso. O aumento da incidência e severidade de doenças foliares, segundo Godoy (2015), se dá em razão do aumento da área plantada, ausência de rotação de culturas e da introdução de novos patógenos, tomando cada vez mais importância dentro do manejo da cultura da soja.
As perdas anuais de produção por doenças são estimadas em 15% a 20%, podendo inclusive chegar a 100% para algumas doenças (Seixas et al., 2020). Sabendo disso, é de responsabilidade dos profissionais da área agronômica ter o conhecimento técnico para formar programas de manejo de doenças, como o posicionamento estratégico de fungicidas, para assim proporcionar ao produtor rural informações que permitam produzir mais com custos otimizados.
Os fungicidas são substâncias químicas de origem natural ou sintética que, quando aplicadas às plantas, protegem-as da penetração e/ou do posterior desenvolvimento de fungos patogênicos em seus tecidos (Reis et al., 2010). Eles atuam interrompendo processos vitais dos patógenos, impedindo sua germinação, crescimento e/ou reprodução. O posicionamento de fungicidas é essencial para garantir a proteção do potencial produtivo da cultura da soja. Faz-se o necessário para dar condições de índice de área foliar adequado para que a planta faça a fotossíntese, logo, produza e acumule fotoassimilados que irão dar origem ao produto final, os grãos.
Segundo Godoy (2015), os principais modos de ação utilizados no controle de doenças na cultura da soja no Brasil (Tabela 1.) são os Inibidores de Desmetilação (IDM, triazóis), os Inibidores de Quinona Oxidase (QoI, estrobilurinas) e, a partir de 2013, a nova geração de moléculas Inibidoras da Succinato Desidrogenase (SDHI, carboxamidas).
O posicionamento dos fungicidas deve ser feito de maneira inteligente e sustentável, para que ocorra o controle das doenças sem que haja a seleção de resistência do patógeno. De acordo com Godoy (2015) a resistência de fungos é um mecanismo de defesa, sendo uma resposta evolutiva natural a uma ameaça externa para sua sobrevivência, nesse caso ao fungicida. Existem estratégias que podem mitigar o aparecimento desse mecanismo, como a rotação de misturas comerciais com produtos que não apresentem resistência cruzada, as conhecidas misturas triplas; a limitação no número de aplicações de um mesmo grupo químico; e a utilização de fungicidas multissítios.
As misturas triplas de fungicidas são combinações de três ingredientes ativos (I.A.) diferentes para o controle das doenças. A principal vantagem da utilização é aumentar o espectro de controle e não instigar uma pressão de seleção para a resistência dos fungos. Já os fungicidas multissítios, afetam diferentes pontos metabólicos do fungo e apresentam baixo risco de resistência, tendo um papel importante no manejo antirresistência para os fungicidas sítio-específicos (McGrath, 2004). Produtos a base de mancozebe e clorotalonil são exemplos clássicos de fungicidas multissítios, amplamente utilizados em diversas culturas.
Além de serem eficazes no controle de uma ampla gama de doenças, os fungicidas multissítios podem ser combinados com produtos de sítio específico para melhorar a proteção das plantas e aumentar a durabilidade das tecnologias disponíveis (Mais Agro, 2025).
Diante das informações apresentadas, quais fatores devem ser considerados para um posicionamento estratégico de fungicidas?
Um dos fatores fundamentais é o momento da aplicação. Quando trata-se de agentes fitopatogênicos, o ideal é o controle preventivo para que não haja, em situações que podem ser evitadas, um aumento do número de aplicações na área. Para isso, sugere-se que haja um protocolo de aplicação de fungicidas, dividido em várias entradas na área.
A primeira entrada na área é a popularmente denominada “Aplicação V0”, que ocorre de 10 a 15 dias após a emergência (DAE), corresponde ao estágio fenológico V3 a V4 (Figura 1) pela escala de Fehr & Caviness (1977). Esta visa alocar o produto de maneira antecipada nas primeiras folhas da cultura da soja para o controle preventivo de manchas foliares, principalmente a mancha-parda (Septoria glycines) e o Crestamento foliar de Cercospora (Cercospora spp.). Vale ressaltar que ambos os patógenos podem estar presentes na área durante todo o ciclo, uma vez que os fungos sobrevivem em restos de cultura (Seixas et al., 2020), frisando a importância de um manejo visando evitar a proliferação desses fungos para o decorrer das safras.
A segunda entrada na área é feita no pré-fechamento das entrelinhas, comumente nomeada de “Primeira Verdadeira”. Denominada deste modo pois, em geral, é a primeira aplicação composta por uma mistura tripla e um protetor, levando produtos “Premium” para a lavoura. Estes itens são os de maior valor agregado no mercado e que, geralmente, apresentam os melhores resultados nos ensaios de pesquisa pelo amplo espectro de controle dos agentes fitopatogênicos. Esse período é o último momento em que ocorre o molhamento efetivo das folhas do baixeiro (terço inferior da arquitetura foliar da planta). Esse momento coincide, em média, entre 30 a 40 DAE, ou V6 a R1.
A reincidência de aplicações de fungicidas na soja pode ir até o final do enchimento de grãos (R5.3 a R5.5). A decisão de demanda por produtos no final do ciclo de desenvolvimento da soja pode variar de acordo com a pressão de doenças de cada lavoura e as condições ambientais de cada área, correspondendo à terceira, quarta, quinta ou mais aplicações de fungicidas, o que exige estratégia, conhecimento técnico e atenção aos detalhes da lavoura.
O intervalo entre as aplicações varia de 10 a 20 dias. Esse fator é de suma importância quando se pensa no protocolo de manejo. O tempo do intervalo recebe forte influência do clima local, tendo em vista que em um ambiente de maiores índices pluviométricos, juntamente com temperaturas em torno de 20 a 30ºC, torna-se um ambiente favorável para o desenvolvimento das doenças.
Logo, preconiza-se que o intervalo entre aplicações seja reduzido. Em contrapartida, observa-se que quando há dias sucessivos com temperaturas muito elevadas (acima de 36ºC), as condições climáticas têm efeito adverso na taxa de crescimento e desenvolvimento da soja, provocando danos à floração e à capacidade de retenção de vagens (EMBRAPA, 2021), assim o período entre as aplicações pode ser estendido.
Em síntese, o posicionamento estratégico de fungicidas na cultura da soja é fundamental para maximizar a produtividade e minimizar perdas causadas por doenças foliares. A adoção de misturas triplas, o uso de fungicidas multissítios e a definição precisa do momento de aplicação são fatores-chave para um manejo fitossanitário mais eficiente. Além disso, a consideração das condições ambientais e do histórico de doenças na área é essencial para tomadas de decisão mais assertivas. Dessa forma, é fato dizer que posicionar bem os fungicidas não é apenas uma escolha, é o caminho que diferencia o lucro do prejuízo.
Sobre os autores:
Gustavo Luft é Acadêmico do 9º semestre do curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria e Bolsista do grupo PET Agronomia E-mail: [email protected]
Coautores:
Fábio Pedrazzi de Vargas, Kauê da Cunha Beier, Marcos Paulo Pereira Ribeiro, Renata Vitória Roveda Willrich
Referências bibliográficas:
Referências bibliográficas citadas no texto:
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Boletim da Safra de Grãos: 6º Levantamento – Safra 2024/25. Brasília, 2025. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-de-graos. Acesso em: 21/03/2025.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Temperatura. Agência de Informação Tecnológica. 2021. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/pre-prod ucao/caracteristicas-da-especie-e-relacoes-com-o-ambiente/exigencias-climaticas/t emperatura. Acesso em: 25/03/2025.
FEHR, W.R.; CAVINESS, C.E. Stages of soybean development. Ames: Iowa State University of Science and Technology, 1977. Special Report, v. 80. GODOY, C. V. Atualizações no controle de doenças foliares na cultura da soja. Londrina: Embrapa Soja, 2015. Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1010782/1/Atualizacoesnoco
ntrolededoencasfoliaresnaculturadasoja1.pdf. Acesso em: 20/03/2025.
REIS, E.; REIS, A.; CARMONA, M. Manual de Fungicidas: Guia para o controle químico de doenças. 6ª Edição. Universidade de Passo Fundo: Editora UPF, 2010. SEIXAS, C. D. S.; SOARES, R. M.; GODOY, C. V.; MEYER, M. C.; COSTAMILAN, L. M.; DIAS, W. P.; ALMEIDA, A. M. R. Manejo de doenças. In: SEIXAS, C. D. S.; NEUMAIER, N.; BALBINOT JUNIOR, A. A.; KRZYZANOWSKI, F. C.; LEITE, R. M. V. B. C..
Tecnologias de Produção de Soja. Edição 17. Londrina: Embrapa Soja, 2020, p. 227-264.
SYNGENTA. Tudo sobre fungicidas: história, tipos e aplicações no campo. Mais Agro, 2025. Disponível em: https://maisagro.syngenta.com.br/tudo-sobre-agro/tudo-sobre-fungicidas-historia-ti pos-e-aplicacoes-no-campo/. Acesso em: 21/03/2025.
Universo Agro Galaxy. Fases fenológicas da soja: otimize sua produção. 2021. Disponível em: https://universo.agrogalaxy.com.br/2021/09/10/fases-fenologicas-da-soja/. Acesso em: 25/03/2025
Referências bibliográficas consultadas
ANTONIO, M.; NETO, D.; RODRIGUES, J. D. Avaliação do efeito fisiológico do uso de fungicidas na cultura de soja. Disponível em: <https://repositorio.usp.br/item/001806591>. Acesso em: 26 mar. 2025.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Estádios de desenvolvimento. Embrapa Agência de Informação Tecnológica, 2025. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/pre-producao/caracteristicas-da-especie-e-relacoes-com-o-ambiente/estadios-de-desenvolvime
nto. Acesso em: 25/03/2025.
GODOY, C. V. et al. Eficiência do controle da ferrugem asiática da soja em função do momento de aplicação sob condições de epidemia. Londrina, PR. Tropical Plant Pathology, v. 34, n. 1, 1 fev. 2009. GODOY, C. V. Manejo de Doenças na Cultura da Soja. In: WORKSHOP CTC AGRICULTURA, 16., 2017, Rio Verde. Agricultura – Resultados 2017. Rio Verde: Centro Tecnológico Comigo, 2017.
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