Categories: Sustentabilidade

A tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas no Brasil – MAIS SOJA


Por Tamara Trevisan- PET/UFSM 

Nos últimos anos, a produção agrícola no Brasil tem apresentado avanços significativos, impulsionado pelo uso eficiente de tecnologias como defensivos agrícolas, produtos biológicos e práticas de manejo integrado de pragas e doenças (EMBRAPA, 2023).

Contudo, o aumento nos custos desses insumos e da mão de obra, aliado à crescente preocupação com a poluição ambiental, exige tecnologias mais precisas para a aplicação de produtos fitossanitários. Isso inclui procedimentos e equipamentos que garantam maior eficiência e proteção ao trabalhador (AZEVEDO, 2001).

A tecnologia de aplicação consiste basicamente em um conjunto de conhecimentos que envolve informações sobre os produtos fitossanitários, suas composições, adjuvantes, técnicas de pulverização, alvos específicos e o ambiente de aplicação. Seu objetivo central é garantir uma aplicação eficiente, segura e alinhada às boas práticas agrícolas. A eficácia no controle de pragas, doenças e plantas daninhas depende da qualidade da aplicação do produto.

Caso uma parte da aplicação não atinja o alvo desejado, a eficiência do processo será comprometida, resultando em perdas (Conceição e Santiago, 2003). Estudos indicam que, no Brasil, aproximadamente 46% das aplicações de defensivos agrícolas são desperdiçados devido a falhas na calibração dos equipamentos, condições climáticas inadequadas e erro humano, o que pode resultar em perdas significativas na produtividade agrícola (AGROLINK, 2024).

Assim tendo como objetivo central da tecnologia de aplicação aprimorar a qualidade do processo, assegurar a segurança do agricultor e otimizar a pulverização para garantir que o produto atinja o alvo desejado, seja ele uma planta ou um inseto, de maneira eficaz e com o melhor custo-benefício possível.

Uma das principais tecnologias utilizadas nas propriedades rurais é a telemetria, que coleta e compartilha dados remotamente sobre equipamentos agrícolas por meio de sensores conectados, permitindo diagnósticos precisos e rápidos (AGRIQ, s.d.). Outra tecnologia é o Eletro Vortex, que combina assistência de ar e carregamento eletrostático para melhorar a pulverização. Nesse processo, as gotas adquirem carga negativa ao passar pelo eletrodo, aumentando a deposição nos alvos foliares e reduzindo a deriva em até 35% (EAEMAQ, 2023). A modulação por largura de pulso (PWM) também é fundamental, pois controla rapidamente as válvulas eletrônicas para evitar falhas na pulverização e aumentar a precisão do controle da vazão dos bicos (TEEJET, s.d.). Além disso, os veículos agrícolas autônomos (VAA) têm se tornado comuns, operando sozinhos e guiados por sensores e GPS, o que garante eficiência e segurança nas operações (JACTO, 2022).

Entretanto, alguns fatores podem interferir na eficácia da aplicação. As condições meteorológicas desempenham um papel importante para uma aplicação eficaz. As condições ideais incluem temperatura do ar abaixo de 30ºC, umidade relativa acima de 50% e velocidade do vento entre 3 e 10 km/h (AGROLINK, 2024). Também, a seleção correta das pontas de pulverização é crucial, pois determina a vazão, o tamanho das gotas e a forma de emissão do jato (CORTEVA, 2021).

É importante destacar que gotas excessivamente pequenas podem não alcançar adequadamente o alvo pretendido. Nesse contexto, o tamanho das gotas durante a pulverização podem variar desde extremamente pequenas até maiores. Para medir e classificar essas gotas, utiliza-se o Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV), que é uma referência comum na indústria para descrever o tamanho das gotas e analisar o padrão de pulverização. Esse parâmetro é crucial para garantir uma aplicação eficiente, com os resultados desejados.

Segundo CORTEVA (2021), os diferentes modelos de pontas utilizados atualmente na pulverização influenciam diretamente no tamanho das gotas formadas. As pontas de jato cônico e as de jato plano duplo tendem a produzir gotas extremamente finas (Figura 1). Já as pontas de jato plano de uso ampliado originam gotas que variam entre finas e médias a grossas. Por fim, as pontas que possuem tecnologia de indução de ar, como as do tipo “Venturi” são capazes de gerar gotas grossas ou muito grossas, o que auxilia na diminuição da deriva.

Figura 1. Tipos de pontas de pulverização e classes de gotas
Fonte: Corteva (2021)

A pressão de trabalho também é outro fator crítico no controle da deriva durante a pulverização. Para garantir uma aplicação eficiente é importante ajustar a pressão do sistema de pulverização, com valores que podem variar entre 1,5 e 6,0 bar, dependendo do tipo de ponta utilizada e sua aplicação. Pontas de jato plano convencional, por exemplo, operam melhor em pressões mais baixas, entre 1,5 e 3,0 bar, enquanto as pontas de indução de ar, como as de tecnologia Venturi, exigem pressões mais altas, entre 3,0 e 6,0 bar, para formar gotas mais pesadas e reduzir a deriva. A calibração adequada assegura uma distribuição uniforme da calda, enquanto pressões muito baixas podem levar a falhas na aplicação, afetando diretamente a eficiência do processo (TEEJET TECHNOLOGIES, 2022).

Quando a pressão de pulverização ultrapassa os níveis recomendados para determinado tipo de ponta, aumenta-se o risco de deriva. O deslocamento indesejado das gotas fora da área-alvo. Além disso, pressões excessivas podem acelerar o desgaste das pontas comprometendo sua durabilidade e eficiência. Manter a pressão adequada é essencial para assegurar a eficácia da aplicação, preservar os equipamentos e minimizar impactos ambientais adversos (COSTA et al., 2009).

Nos dias atuais a aplicação correta de defensivos agrícolas é essencial para garantir a boa condução das lavouras e a sustentabilidade do processo produtivo. A escolha assertiva das tecnologias de aplicação, como a calibração das pontas e o controle de pressão, podem reduzir desperdícios e impactos ambientais. Investir em boas práticas e em inovação tecnológica é fundamental para melhorar a produtividade, assim garantindo resultados mais eficientes e seguros. Nesse sentido, também destaca-se a importância em investimentos na educação e capacitação de profissionais que trabalhem diretamente com essa tecnologia, acaba sendo uma alternativa fundamental para garantir ainda mais que o setor agrícola siga evoluindo.

Sobre o autor: Tamara Trevisan – Técnica em Agropecuária – IFFAR campus São Vicente do Sul, Acadêmica do 9º semestre de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria e Bolsista grupo PET Agronomia. E-mail: trevisan.tamara@acad.ufsm.br

Coautores: Fábio Joel Kochem Mallmann, Kauê da Cunha Beier, Marcos Paulo Pereira Ribeiro, Renata Vitória Roveda Willrich

6) Referências bibliográficas:
6.1) Referências bibliográficas citadas no texto:

AGROLINK. Condições climáticas ideais para aplicação terrestre de defensivos. Agrolink, 1 mar. 2024. Disponível em: https://www.agrolink.com.br/agrolinkfito/tecnologia-de-aplicacao/aplicacao-terrestre/condicoes-climaticas-ideais-para-a-aplicacao-de defensivos_480312.html. Acesso em: 22 abr. 2025.

AGRIQ. Telemetria na agricultura: o que é e como funciona. AgriQ, [s.d.]. Disponível em: https://agriq.com.br/telemetria-na-agricultura/. Acesso em: 22 abr. 2025.

CORTEVA. Seleção de Pontas de Pulverização. 2021. Disponível em: https://www.corteva.com.br/content/dam/dpagco/corteva/la/br/pt/bpa-site/ebooks/pdfs/Ebook_TA_Selecao_de_pontas_de_pulverizacao.pdf. Acesso em: 22 mar. 2025.

COSTA, A.G.F. et al. Efeito da intensidade do vento, da pressão e de pontas de pulverização na deriva de aplicações de herbicidas em pré-emergência. Planta Daninha, v. 27, n. 3, p. 497-506, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pd/a/gkS6d7JHjts9t6Fg5wSDHBH/. Acesso em: 28 abr. 2025.

EAEMAQ. Uniport 3030 Eletro Vortex: pulverização em outro nível. EAEMaq, 27 set. 2023. Disponível em: https://eaemaq.com.br/noticias-de-produtos/uniport-3030-eletrovortex-pulverizacao-em-outro-nivel/. Acesso em: 22 abr. 2025.

EMBRAPA. Biopesticidas biológicos cresceram 45% no Brasil nos últimos cinco anos. Embrapa, 10 jul. 2023. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/87248594/biopesticidas-biologicos-cresceram-45-no-brasil-nos-ultimos-cinco-anos. Acesso em: 22 abr. 2025.

JACTO. Descubra o que é um veículo autônomo e seu impacto na agricultura. Jacto, [s.d.]. Disponível em: https://blog.jacto.com.br/descubra-o-que-e-um-veiculo-autonomo-e-seu-impacto-na-agricultura/. Acesso em: 22 abr. 2025.

TEEJET. Pontas para PWM. TeeJet, [s.d.]. Disponível em: https://www.teejet.com/pt-br/-/media/dam/agricultural/brazil/sales-material/product-market-bulletin/li-tj212-pt-r3.pdf. Acesso em: 22 abr. 2025.

6.2) Referências bibliográficas consultadas:

AERGO. Tecnologia de aplicação. 2019. Disponível em: https://blog.aegro.com.br/tecnologia-de-aplicacao/. Acesso em: 15 abr. 2025.

ESALQ. Manual de Tecnologia de Aplicação. 2010. Disponível em :http://www.lpv.esalq.usp.br/sites/default/files/Leitura%20-%20Manual%20Tecnologia%20de%20Aplicacao.pdf. Acesso em 15 abr. 2025.

SABRI. Tecnologia de aplicação de caldas fitossanitárias. 2019. Disponível em: https://sabri.com.br/content/wp-content/uploads/2019/08/E-book-Tecnologia_de_aplicacao_de_caldas_fitossanitarias.pdf. Acesso em 22 mar. 2025.


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