Por Jossana Ceolin Cera, Consultora Técnica do Irga Meteorologista
As chuvas ocorreram em baixos volumes em março, com acumulados abaixo dos 20 mm no Nordeste e entre 20 e 80 mm em áreas do Centro, da Campanha e do Leste do Estado. Na Fronteira Oeste, no Noroeste, no Norte e em parte do Centro, os acumulados variaram de 80 a 120 mm, em média (Figura 1A). Já as anomalias de precipitação foram negativas na maioria das regiões. As exceções foram parte do Centro, do Norte e do Sul do Estado, que tiveram anomalias positivas de precipitação (Figura 1B).
Além de baixos volumes, as chuvas foram bastante irregulares durante o mês. Pelos gráficos (Figura 2) observa-se que, em Bagé e em Camaquã, pouco choveu. As temperaturas máximas foram predominantemente acima da Normal Climatológica (NC) na maioria das regiões, com exceção da Zona Sul e da região Nordeste. Já as mínimas foram abaixo da NC em toda a Metade Sul. Nos primeiros 10 dias de março, as temperaturas ainda estavam bem acima da média. Depois, houve pequenas oscilações, próximas dos valores da NC, padrão corriqueiro durante o outono.
Para a cultura do arroz, principalmente, a radiação solar é imprescindível para a obtenção de altas produtividades, sendo necessário coincidir época de semeadura e ciclo de cultivar, para que o período reprodutivo ocorra de dezembro a fevereiro. Na atual safra, a semeadura estendeu-se por conta do excesso de chuvas, principalmente na Zona Sul e na Região Central. Assim, a radiação solar de março também tornou-se muito importante.
Observa-se que a radiação solar foi alta em toda a Metade Oeste em dezembro e, sobretudo, em janeiro, mês em que a maioria das lavouras da Fronteira Oeste (maior área) estava em floração. Já as anomalias foram positivas na maior parte da Metade Sul, de dezembro/2024 a março/2025 (Figura 3).
Um ponto importante a ser ressaltado é que março de 2025 teve radiação solar superior a março de 2023 (safra da La Niña 2022/23). Além disso, na atual safra observou-se menos dias de calor intenso, acima dos 35°C, comparado à safra da La Niña de 2022/23. Somando isso ao adequado manejo e à rotação de culturas, tem-se a resposta para as altas produtividades que estão sendo obtidas na safra 2024/25.
Na atualização de 10 de abril de 2025, a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) declarou que, coletivamente, o sistema acoplado oceano-atmosfera refletiu as condições Neutras do ENOS (El Niño-Oscilação Sul). A anomalia mensal da temperatura da superfície do mar, na região Niño3.4, foi de +0,1°C em março, dentro da faixa da Neutralidade. Na região do Niño1+2, foi de +1,2 °C (Figura 4). A anomalia trimestral, referente a Jan-Fev-Mar/2025, foi de -0,4 °C, também dentro da faixa de Neutralidade.
Analisando-se os dados divulgados pela NOAA, houve apenas dois trimestres com anomalias em limiar de La Niña: Nov-Dez/2024-Jan/2025 (-0,5°C) e Dez/2024-Jan-Fev/2025 (-0,6°C). Ou seja, pelos critérios utilizados atualmente pela NOAA, a safra 2024/25 foi de Neutralidade, com viés frio. No entanto, a instituição está estudando um novo índice – o Índice Niño relativo. O aumento da temperatura média dos oceanos fez com que a área característica de águas frias do Pacífico parecesse mais quente do que estaria em condições normais. Com isso, esse novo índice poderá vir a ser usado no futuro, para tirar/driblar esse mascaramento do aquecimento causado pelas alterações climáticas.
Segundo a previsão da NOAA, a Neutralidade deverá atuar no trimestre Mai-Jun-Jul/2025, com 83% de probabilidade. E, na verdade, a fase Neutra deverá estender-se por todo o outono e inverno de 2025. Mas, é preciso cautela, pois os prognósticos realizados durante o outono possuem precisão reduzida e a incerteza aumenta em horizontes de tempo mais longos. Assim, pode ser que haja mudanças no que está sendo projetado para o final do inverno.
O bolsão de águas subsuperficiais com anomalias negativas de temperatura diminuiu mês a mês de janeiro até aqui. Sendo que no gráfico de abril, as temperaturas das águas subsuperficiais estão praticamente em um padrão de Neutralidade (Figura 5). Com isso, o Oceano Pacífico Equatorial deverá prosseguir em Neutralidade no curto e no médio prazos.
Para esse trimestre, a previsão de consenso do IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê chuvas abaixo do padrão normal no RS. Já o modelo CFSv2 (Climate Forecast System), da NOAA, prevê precipitações entre dentro e abaixo da NC em maio, abaixo da NC em junho e dentro da NC em julho. Por sua vez, a previsão do modelo do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) é de que as precipitações fiquem acima da NC em maio. Em abril, a previsão é de que fiquem abaixo da NC entre a Campanha e a Zona Sul e, dentro da NC, nas demais regiões da Metade Sul. Para julho, a previsão é de chuvas dentro da NC em todo o Estado (Figura 6).
Em boletim divulgado pelo IRGA no dia 24/04/2025, o RS já colheu 85,7% da área de arroz. Mas, na Região Central 65,5% da área está colhida, ou seja, ainda falta pouco mais de 30% da área. A previsão de chuvas acima da média para maio preocupa um pouco. Por isso, assim que seja possível, é importante priorizar a colheita dessas lavouras que foram semeadas tardiamente. E, na sequência, fazer os manejos de solo e semeadura das pastagens/coberturas de solo de outono/inverno, se estas estiverem em seu planejamento.
Neste mês de abril, a transição entre o verão e o outono está sendo bem branda, sem muitos picos de frio ou calor. Mas, à medida que avançamos em direção a maio, observaremos massas de ar frio mais intensas chegando ao Estado. Embora as chuvas estejam sendo escassas, pensando nas culturas de outono/inverno, as expectativas são boas, com a melhoria nas condições hídricas do solo.
Para melhores tomadas de decisão de manejo de suas lavouras, é importante que se faça o acompanhamento da previsão do tempo de sete a 15 dias, visando maior eficiência na execução das atividades programadas.
Fonte: Irga
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