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Importância de reduzir as perdas na colheita de soja – MAIS SOJA


Devido à interferência do fenômeno El Niño no padrão de chuvas durante a safra 2023/2024, algumas regiões agrícolas do Brasil foram significativamente impactadas por precipitações acima ou abaixo da média, ocasionando efeitos diversos nas plantações. Isso se traduziu em atrasos na semeadura, aumento na incidência de doenças, especialmente nas regiões mais afetadas por chuvas intensas. Além disso, o déficit hídrico também prejudicou o início da safra em determinadas regiões, resultando em perdas na produção.

A produtividade das lavouras foi prejudicada devido aos índices pluviométricos, impactando diretamente a disponibilidade de água durante o ciclo de desenvolvimento da soja, podendo resultar em produções abaixo do esperado. Segundo informações da Conab (2023), a escassez de chuvas no Mato Grosso dificultou o desenvolvimento pleno nas fases iniciais da soja em grande parte das lavouras do estado. Por outro lado, no Rio Grande do Sul, a semeadura da soja foi severamente prejudicada pelo alto volume de chuvas. Diante desse cenário, reduzir as perdas de colheita torna-se ainda mais importante visando reduzir o impacto econômico decorrente da menor produtividade.

A fase de colheita é considerada uma das etapas mais importantes no processo de produção da soja, especialmente devido aos riscos a que está sujeita a lavoura seja destinada ao consumo ou à produção de sementes. Para evitar perdas quantitativas e qualitativas, é importante iniciar a colheita no momento em que a soja atinge o estádio de ponto de colheita, no estádio reprodutivo R8 pela escala fenológica de Fehr e Caviness (1977). Em várias lavouras de soja no Brasil, conforme destacam Portugal & Silveira (2021), são observados níveis de perdas de grãos na colheita mecanizada acima do considerado razoável, de 1 saco de 60 Kg por hectare.

Considerando as diversas causas de perdas que podem ocorrer em uma lavoura de soja, é possível verificar diferentes tipos ou fontes de perdas em três principais grupos. Primeiramente, destacam-se as perdas antes da colheita, que são originadas tanto pela deiscência natural das vagens quanto pela queda das mesmas ao solo antes do processo de colheita. Em seguida, surgem as perdas causadas pela plataforma de corte, abrangendo a debulha, as variações na altura de inserção e o acamamento das plantas diante da plataforma. Por fim, as perdas por trilha, separação e limpeza.

O pesquisador Martin (2021), destaca que cerca de 33% das perdas ocorrem durante as etapas de trilha, separação e limpeza, destacando a importância da regulagem das máquinas. A eficiência na colheita de grãos frequentemente é comprometida devido ao conhecimento limitado do operador sobre as configurações e operações da colhedora. Para assegurar uma colheita eficiente, é essencial estabelecer um trabalho harmônico entre o molinete, a barra de corte, a velocidade da operação e os ajustes dos sistemas de trilha, separação, limpeza e transporte (Lorini et al., 2020).



Recomenda-se que a velocidade do molinete seja ligeiramente superior à da colhedora, operando com seu eixo central à frente da barra de corte. A rotação do molinete e velocidades ideais de colheita variam entre 4,0 km h-1 e 6,5 km h-1. Dois métodos sugeridos para estimar a velocidade da colhedora incluem contar passos largos em um período de 20 segundos, multiplicando o número de passos pelo fator 0,16, ou usar uma trena para medir a distância percorrida em 20 segundos e calcular a velocidade em km h-1, multiplicando pelo fator de conversão 3,6.

Uma forma de avaliar as perdas durante o processo de colheita e auxiliar nos ajustes da colhedora é o método do copo medidor, desenvolvido pela Embrapa. Esse método amplamente utilizado e de prática aplicação, proporciona uma mensuração direta das perdas a nível de campo. A técnica envolve a utilização de um copo medidor equipado com uma escala graduada, permitindo a determinação precisa do nível de perda em sacas por hectare.

Figura 1. Detalhes da parte frontal e da escala graduada do copo volumétrico desenvolvido pela Embrapa para a determinação das perdas de grãos na colheita de soja.

Fonte: Lorini et al. (2020).

Quanto às perdas qualitativas, Mesquita & Costa (2006) ressaltam que, praticamente 100% das perdas na qualidade das sementes são atribuídas aos mecanismos internos das colhedoras, em especial ao sistema de trilha, composto pelo cilindro de trilha e pelo côncavo, ocasionando quebra das sementes e danos mecânicos.

Diversos fatores podem influenciar as perdas durante o processo de colheita, tornando crucial estar atento para minimizá-las. Nesse contexto, é fundamental ajustar a velocidade da colhedora e assegurar uma regulagem precisa de todos os seus mecanismos. Determinar a velocidade ideal da colheitadeira e do molinete é essencial para otimizar a capacidade operacional e contribuir para minimizar as perdas. De maneira geral, a faixa de velocidade de colheita recomendada varia entre 4,0 e 6,5 Km h-1, sendo necessário adaptá-la às condições específicas da lavoura, como topografia, produtividade esperada e incidência de acamamento.


Veja mais: Sementes esverdeadas influenciam a qualidade da semente?



Referências:

CONAB. ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA DE GRÃOS: SAFRA 2023/24. Companhia Nacional de Abastecimento, v. 11, n. 3., 2023. Disponível em: < https://www.conab.gov.br/component/k2/item/download/50527_e172d2db73ff296100aeb45a93c03a80 >, acesso em: 05/01/2024.

LORINI, I. et al. COLHEITA E PÓS-COLHEITA DE GRÃOS. Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 05/01/2024.

MARTIN, T. COMO EVITAR PERDAS DE COLHEITA? Mais Soja, 2021. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=q9wNfMuiXPI >, acesso em: 05/01/2024.

MESQUITA, C. M.; COSTA, N. P. PERDAS DURANTE A COLHEITA DA SOJA SÃO SUBESTIMADAS. Visão Agrícola, n. 5, 2006. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/va05-colheita01.pdf >, acesso em: 05/01/2024.

PORTUGAL, F. A. F.; SILVEIRA, J. M. PERDAS NA COLHEITA. Embrapa, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/producao/colheita/perdas-na-colheita >, acesso em: 05/01/2024.

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